Uma alcateia de lobos matou vários vitelos numa propriedade de São Mateus, aldeia do concelho de Montalegre. A matança vem juntar-se à do ano passado onde perderam a vida 21 animais. Um prejuízo avultado no ganha-pão de José Apolinário, responsável pela quinta com mais de 80 hectares de terreno. O desespero é de tal ordem que pediu ajuda para minorar o prejuízo. O apelo chegou ao ouvido do presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, que desde logo mostrou solidariedade com este barrosão. Na visita, o líder do município deixou garantia que tudo irá fazer para que haja, pelo menos, algum valor pecuniário que minimize o prejuízo.
José Apolinário, conhecido como o "Pacheco de Meixide", é o gestor de uma quinta com mais de 80 hectares plantada na aldeia de São Mateus. Alugou o espaço há mais de 30 anos. Já teve cavalos, burros e agora tem perto de 40 vacas. Desde sempre que o lobo - espécie protegida em Portugal - rondou a propriedade com estragos no registo. Porém, nunca os danos foram tantos como há dois anos a esta parte. O ano passado foram mortos 21 vitelos. Este ano já vai em 13. Um prejuízo insuportável para este produtor pecuário, pai de dois filhos, que desde sempre esteve ligado ao setor primário.
«NUNCA TIVE AJUDA DE NINGUÉM»
Este barrosão de gema não só lamenta o que tem sofrido como lastima nunca ter tido ajuda das entidades competentes. Acusa o poder central de nada fazer para acudir aos estragos que tem sofrido. Porém, há agora uma esperança com a visita do presidente da Câmara de Montalegre: «espero que a vinda do senhor Presidente consiga fazer alguma coisa. Nunca fui ajudado com nada. Não consigo suportar isto toda a vida». Os olhos de José Apolinário caem no momento de invocar a família: «esta é a minha sobrevivência. É daqui que saem os meus rendimentos. Tenho dois garotos. Tenho que pagar a Segurança Social e os outros impostos...se isto continua, não vou conseguir».
«ISTO TEM QUE TER SOLUÇÃO»
Agastado com o que viu e sensibilizado com o agricultor barrosão, o presidente da autarquia aponta o dedo à inércia de quem tem obrigação para resolver problemas: «estamos perante uma situação lamentável. Recordo que há muitos anos que este barrosão vem exibindo fotografias dos assaltos e da devastação que o lobo causa na sua manada de gado e que, lamentavelmente, ainda não conseguiu sensibilizar as sucessivas direções do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) para que seja compensado do esforço que faz para alimentar uma espécie que é protegida». Orlando Alves pede resolução junto do ICNF: «estão aqui factos comprovadíssimos, isto é, vitelos recém-nascidos que estão permanentemente a ser devorados pelo lobo. Nós próprios, na Câmara, já fomos mensageiros, junto do ICNF, deste desespero. Isto tem que ter solução. O ICNF tem de perceber que tem que, no seu orçamento anual, dotar financeiramente a rubrica das indemnizações devidas às pessoas que alimentam a espécie protegida. Iremos ser portadores desta intenção, no próximo dia 31, junto da Diretora Regional com quem temos relações de proximidade».
GUERRA AO JAVALI
Porém, nem só o lobo causa estragos na agricultura. Embalado nas considerações, o presidente da Câmara de Montalegre remata, ao lembrar o impacto causado pelos javalis: «estamos também numa outra guerra. Refiro-me ao javali, um predador ainda mais pernicioso que o lobo. Destrói tudo. Coloca muita gente desanimada numa altura em que estamos a viver a fase das sementeiras. Tenho a informação que, parte dos incêndios que estão a acontecer no concelho, resultam de uma atitude de desespero das populações no sentido de se verem livres dos javalis».
Fotografias: Município de Montalegre