O folclore no Luxemburgo tem sido muito mal tratado, afirmaram Paulo Moreira e Sérgio Cordeiro, dois dos fundadores do Grupo Etnográfico do Alto Minho numa entrevista.
“O nosso objectivo é tentar mudar a imagem depreciativa do folclore e mostrá-lo como ele realmente é”, asseguraram, concordando ambos que “muitas vezes o público luxemburguês é mais receptivo do que o português”.
A ideia já era antiga mas o projecto só acabaria por se concretizar em 1999, juntamente com mais dezanove jovens de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 14 e os 28 anos. Paulo Moreira era o mais velho de um grupo que hoje, entre músicos, cantores e dançarinos conta já com 60 elementos, e Sérgio Cordeiro um dos mais jovens.
A paixão pelo folclore é algo que lhes está no sangue, a tal ponto que Sérgio chega mesmo a afirmar ser este o seu único passatempo. “Não me estou a lembrar de mais nada que me desperte um sentimento semelhante. Mesmo quando vou de férias a Portugal aproveito para aprofundar os meus conhecimentos sobre o folclore e sobre a nossa cultura”, afirma orgulhoso.
Para o Paulo, que confessa ter começado por influência do pai – durante muitos anos ligado ao folclore – , existem outros passatempos. “Sou maluco por música e carros”, admite. “Gosto também de estar ao corrente do que se passa aqui, em Portugal e no mundo, e por isso leio muito”.
A razão que os levou a traçar o ser próprio caminho prende-se essencialmente com “a vontade de fazer algo mais jovem, algo diferente”.
O público a que se dirigem não é exclusivamente português, bem pelo contrário. “É, sem dúvida importante continuar a divulgar o folclore junto dos portugueses e principalmente junto da nova geração para não o deixar morrer”, salientou o Sérgio, “mas é também necessário abrir as portas da nossa cultura aos luxemburgueses e às restantes nacionalidades aqui residentes”, completou o Paulo.
Dos vários espectáculos já realizados, ambos concordam em afirmar que “muitas vezes o público luxemburguês reage melhor do que o português. Demonstram mais interesse, querem saber como e porquê apareceu o folclore, a origem dos trajes, quando começou…”. Os bailes, portugueses ou luxemburgueses, são os principais palcos. “Os portugueses já conhecem e por vezes, ou porque não apreciam ou porque não respeitam a nossa cultura, nem sempre reagem como gostaríamos. Os luxemburgueses quando nos convidam é porque logo à partida querem divulgar um pouco da nossa cultura. É, regra geral, um público mais adulto e de classe social média alta”, concordaram, sublinhando que “como é óbvio, também há muito portugueses que sabem apreciar o folclore”.
O número crescente de membros no grupo é a prova de que não se trata apenas de uma moda. “Desde que começamos, o número de membros e sócios não tem parado de crescer e, o que também é importante, os fundadores não foram ficando pelo caminho, como muitas vezes acontece em alguns grupos”.
Tanto o Paulo como o Sérgio concluíram o ensino secundário técnico, o primeiro na área de desenhador de construção e o segundo na área de gestão. “É por isso que é ele que trata da tesouraria”, justificou o Paulo (entre risos) apontando para o seu colega.
Ambos encontram-se já a trabalhar nas respectivas áreas de vocação, embora o Sérgio admita ainda a possibilidade de retomar os estudos, “eventualmente na nova Universidade do Luxemburgo”.
Portugal não é mais que uma miragem, e nem sequer uma das mais ansiadas. “Se estivessem reunidas uma série de condições não digo que não, mas por agora não acredito que volte. Gosto do meu trabalho e embora os meus pais já tenham regressado a Portugal, tenho aqui a minha mulher e a minha filha e sentimo-nos bem aqui”, disse o Paulo, natural de Santo Tirso, no Luxemburgo desde os três anos de idade.
A questão da dupla nacionalidade e do direito a voto para as eleições legislativas são, na opinião do Paulo Moreira, dois temas fulcrais para o futuro da comunidade portuguesa no Luxemburgo. “É preciso fazermos algo por nós próprios em vez de passarmos o tempo a lamentarmo-
-nos. O direito ao voto representa a possibilidade de também participarmos nas decisões, mas tenho quase a certeza de que poucos vão fazer uso desse privilégio”, lamentou.
Para o Sérgio o percurso começou por ser um pouco mais complicado. Ao chegar ao luxemburgo durante o quarto e último ano da primária (tinha 9 anos), o Sérgio foi obrigado a voltar para a segunda devido às línguas. “Mesmo assim recuperei depressa e no liceu já era o mais novo da turma”, afirmou com satisfação.
Tal como o seu colega, as aulas de português acompanharam-no até ao final do ciclo. “Durante muitos anos ainda pensei em voltar para Portugal e fazer lá a Universidade. Agora já não…”



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