A Casa Abrigo para vítimas de Violência Doméstica de Bragança acolheu em 15 anos 210 pessoas, todas de fora da região, a maioria das quais acabou por regressar para junto dos agressores, divulgou hoje a responsável.

"Muita frustração" é o que a equipa liderada por Catarina Vaz sente, nestes casos, perante a decisão individual das vítimas, "depois de muitos meses de trabalho" para um novo plano de vida, condicionado, sobretudo pela dependência económica.

Vítimas e agressores são o tema de uma palestra que a casa Abrigo da Santa Casa da Misericórdia de Bragança promove hoje para assinalar o Dia da Mulher e na qual a diretora fala da experiência naquela que é a única resposta social do género no distrito de Bragança.

A Casa Abrigo foi criada em 2002 destinada a mulheres vítimas de Violência Doméstica e tem apenas cinco vagas. Precisa do dobro, segundo a diretora que exemplificou: "se recebermos uma mãe com quatro filhos, fica esgotada".

Ao longo dos 15 anos receberam 210 vítimas, entre mães e filhos, todos de fora do distrito de Bragança. A maioria são mulheres agredidas pelos companheiros, mas já há casos também de mães vítimas dos filhos.

A média de idades está a aumentar e situa-se atualmente acima dos 45 anos, segundo dados da diretora.

Ficam no máximo durante seis meses com apoio das diferentes entidades envolvidas nesta problemática para elaborarem um novo plano de vida.

Têm ainda a mais-valia de encontrar algumas respostas sociais na Santa Casa da Misericórdia, nomeadamente ao nível da saúde, escola e infantário para os filhos.

O que a diretora tem constatado, como disse à Lusa, é que a permanência destas mulheres em Bragança "acaba por ser curta devido às dificuldades na integração no mercado de trabalho", numa região com pouca oferta de emprego.

Acresce que mesmo com a atribuição, nos casos em que se justifica, do Rendimento Social de Inserção, "o valor é insuficiente" para um plano de vida, rondando os 180 euros por pessoa.

As vítimas acabam por regressar aos locais de origem. Algumas procuram apoio junto de familiares. A maioria regressa para junto dos agressores, motivo de "muita frustração" para a equipa que as acompanha e que tem constatado que "a dependência económica é muito complicada".

Catarina Vaz indicou que esta decisão leva a que "às vezes regressem às casas abrigo", porque voltam a ser vítimas de violência, sobretudo "quando não há intervenção junto dos agressores".

"Um agressor não o é só uma vez", vincou a diretora, defendendo a necessidade de intervenção junto dos agressores, concretamente tratando problemas como a raiva e o álcool, um fator frequentemente associado à violência doméstica.

A Casa Abrigo de Bragança contabiliza também casos de sucesso de vítimas que seguem novos planos de vida, como uma mulher da zona do Porto que recebeu apoio e conseguiu emprego numa empresa de Bragança, na área em que trabalhava anteriormente, a dos idosos.

A Santa Casa da Misericórdia de Bragança realizou um vídeo sobre esta temática para mostrar à comunidade todas as respostas sociais existentes nesta área e estratégias e ferramentas para as vítimas se protegerem.

Durante este trabalho, a equipa acabou por descobrir pessoas, com as quais falou noutras respostas sociais como o lar de idosos, que só agora contaram que "foram vítimas durante muito tempo".



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