Mais de dois mil idosos do distrito de Bragança recusaram ser vacinados contra a covid-19, sendo o grupo populacional com maior taxa de rejeição às vacinas nesta região, revelaram hoje as autoridades de saúde responsáveis pelo processo.

Desde que se iniciou o processo de vacinação, os serviços de saúde registaram 2.054 recusas, entre os 131.694 utentes inscritos nos 12 concelhos da região, como indicou à Lusa Manuela Santos, a diretora dos Cuidados de Saúde Primários da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste.

A faixa etária onde se registam mais recusas é a dos 65 anos, com 522 utentes, mas há também pessoas com 95 anos, concretamente 69, e quatro com 105 anos que os serviços ainda não conseguiram vacinar, segundo dos dados avançados à Lusa.

Mais de dois mil idosos “não querem” ser vacinados, uma resistência que tem explicação, na opinião da enfermeira diretora dos Cuidados de Saúde Primários, Adelaide Baptista, por se tratar de “gente habituada às adversidades” que não vê na covid-19 algo pior do que outras vivências que já tiveram.

A mesma resistência, como explicaram as duas responsáveis, ocorre com outras vacinas, como a do Tétano, em que não conseguem convencê-los a deslocar-se para a tomar e, muitas vezes, só conseguem administrá-la aos mais velhos quando os encontram nos centros de saúde ou serviços hospitalares por outras razões.

As equipas dos cuidados de saúde, que estão a operacionalizar no terreno o plano da vacinação da covid-19, garantem que vão continuar o esforço para convencer estas pessoas dos benefícios da vacina contra a doença provocada pelo coronavírus responsável pela pandemia.

Manuela Santos reconhece que a informação que chega às pessoas é contraditória pela multiplicidade de opiniões em torno do assunto e que nem sempre ajuda quem está no terreno a tentar esclarecer as pessoas.

Além do sistema de autoagendamento, são os centros de saúde que contactam os utentes para marcar a vacinação e têm ouvido de alguns que não querem a AstraZeneca e a Janssen, mesmo explicando que em Portugal estão autorizadas quatro vacinas, nomeadamente estas duas, “porque são seguras”.

“Tem a ver com a comunicação feita sobre as mesmas”, no entender de Manuela Santos.

No total já foram administradas no distrito de Bragança, até ao dia 28 de julho, 164.631 doses, que correspondem a mais de 92 mil primeiras doses e a mais de 72 mil com duas doses.

Mais de metade da população tem a vacinação completa, segundo o universo que serve de base à Saúde, o Registo Nacional de Utentes (RNU), que tem 131.694 pessoas inscritas no distrito de Bragança.

O número é muito superior à população residente revelada pelo Censos 2021, que dá conta de que vivem nesta região 122.833 pessoas.

A diretora dos Cuidados de Saúde Primários explicou que o número de utentes refere-se a todos os que estão inscritos nos centros de saúde.

Alguns, como professores ou polícias, podem não residir permanentemente na região, mas continuam a ter o médico de família localmente.

A responsável não excluiu que nestes números constem possíveis óbitos, na medida em que as famílias normalmente não comunicam aos centros de saúde e as atualizações feitas através do Cartão do Cidadão não abrangem a saúde.

O plano de vacinação contra a covid-19 está a ajudar a fazer esta atualização da informação nos contactos com os utentes.

Entre os inscritos estão também os ausentes da região e são, pelo menos, 4.248 que já foram contactados para levar a vacina e que comunicaram que estão no estrangeiro.

Estes, segundo a diretora, “são os suspensos”, cujos processos ficam a aguardar até decidirem onde e quando vão ser vacinados.

Entre recusas, suspensos e outros motivos, são 9.307 os utentes que já foram contactados, mas ainda não foi possível vacinar, entre os 23.584 que ainda não estão vacinados no distrito de Bragança.

Neste número estão também os que aguardam que passem os seis meses, ou três meses no caso de utentes de lares, depois de terem covid-19 ou testes positivos de infeção e que já “só são 36” pessoas.

A diretora garantiu que a região tem “uma boa taxa de cobertura” e capacidade, nos centros de vacinação espalhados por todos os concelhos, para vacinar toda a população, mas o ritmo depende, como em todo o país, da disponibilidade de vacinas.

O distrito de Bragança tinha 308 casos ativos de infeção no último relatório das autoridades de saúde emitido na quarta-feira.

No mesmo dia, estavam internadas nos três hospitais da região cinco pessoas em enfermaria e uma nos cuidados continuados, com um média de idades superior a 75 anos, segundo dados da ULS do Nordeste.



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