O Vale do Tua, em Trás-os-Montes, vai passar mais um verão sem os comboios e os barcos do plano de mobilidade a circular, por serem necessárias ainda mais autorizações e adaptações para o projeto com uma década.

A informação foi prestada à Lusa por João Gonçalves, presidente da Agência Regional de Desenvolvimento do Vale do Tua, a entidade gestora de todos os projetos neste território, o principal dos quais o Plano de Mobilidade Turística e Quotidiano.

Há vários anos que são anunciadas e adiadas datas para o arranque da operação, com a necessidade de mais obras e intervenções que estão quase a terminar, sem que seja possível o arranque do plano no terreno “a curto prazo”, como avançou.

“O objetivo há de ser conseguido, passo a passo vai-se caminhando”, considerou João Gonçalves, mais um presidente que passa pela Agência sem ver concretizada a mais emblemática contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua.

A Agência é também uma contrapartida da barragem, constituída pela EDP, a concessionária, e os cinco municípios da área de influência, nomeadamente Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor.

A presidência é anual e rotativa entre os autarcas dos cinco concelhos e o presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalvez, entrega em julho a pasta da Agência a Júlia Rodrigues, presidente da Câmara de Mirandela.

Os 12 meses de mandato de João Gonçalves serviram fundamentalmente, como resumiu, para realizar as obras necessárias para a desinterdição da desclassificada Linha do Tua, entre Brunheda e Mirandela, numa extensão de pouco mais de 50 quilómetros.

Trata-se de trabalhos que foram sendo exigidos por entidades nacionais ao longo do processo, nomeadamente obras de reabilitação da linha, intervenção nos taludes e a empreitada para o sistema de deteção precoce da queda de blocos.

O prazo inicial para a conclusão era maio e “houve um ligeiro atraso face ao enquadramento da pandemia covid-19”, como indicou.

“Creio que em meados do próximo mês essas obras estarão terminadas”, afirmou.

O presidente da Agência destacou que estas obras são “um passo importantíssimo para que a entidade responsável, o IMT (Instituto da Mobilidade Terrestre), possa desinterditar a linha”.

Só depois de ser autorizada de novo a circulação é que, como explicou, podem avançar outros trabalhos “necessários, tendentes ao objetivo final, que é o operador estar em condições de testar o material circulante”.

O operador a quem foi subconcecionada a exploração do Vale do Tua é Mário Ferreira, o empresário dos barcos do Douro, que recebeu 10 milhões de euros da EDP para entrar no projeto e tem barcos e um comboio à espera de autorização para iniciar a operação.

O Plano de Mobilidade do Vale do Tua tem sido um processo de avanços e recuos, com decisões dependentes de outras e o atraso numas a criar impasse noutras, segundo o presidente da Agência.

“São em cadência, umas não começam sem acabar outras e, portanto, eu acho que estamos no bom caminho, não para começar a operar a curto prazo, não será possível, mas continua perfeitamente possível chegarmos ao objetivo a breve prazo”, afirmou.

Depois das várias datas avançadas, João Gonçalves não se compromete com prazos concretos, até porque há ainda mais passos para dar, já que depois das obras terminadas, e de a linha ser desinterditada, é necessário ainda o licenciamento do material circulante.

O projeto envolve várias entidades públicas e privadas e uma delas é a CP que está a proceder à requalificação do próprio material circulante na linha.

“Tanto o comboio para o turismo como para o transporte da população precisam de uma adequação e, pelo que sei, também o operador está à espera que a CP lhe dê a oportunidade para que seja feita essa adaptação”, acrescentou.

João Gonçalves está “plenamente convicto que durante os próximos meses se resolverá o que falta resolver e que poderá ser implementado o sistema de mobilidade do Vale do Tua”.

Até porque, como enfatizou, “todas as entidades estarão interessadas em que o sistema esteja implementado”, nomeadamente “a própria EDP numa fase em que estará em negociações para a venda da concessão da barragem”.

“Eu estou plenamente convicto de que vai ser uma realidade o sistema de mobilidade do Vale do Tua, não vale a pena é adiantarmos datas porque o caminho vai-se fazendo”, rematou.



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