Populares e autarcas manifestaram-se ontem (sexta) para exigir o encerramento do aterro sanitário intermunicipal, em Vila Real, tendo impedido a entrada de camiões naquela estrutura.
Na estrada de acesso ao aterro, a funcionar desde 2001, foram colocados automóveis que impediram a entrada dos camiões que ali vão despejar o lixo, bem como a saída de viaturas.
“É uma desgraça viver aqui ao lado de um aterro. Todos os dias acordamos e anoitecemos com este cheiro horrível. É diário, mas mais quando está vento e agora que vem o verão é uma desgraça. Isto não pode continuar aqui, já chega, já sofremos muito”, afirmou Filomena Fundo, 72 anos, residente em Andrães.
Porque sofre dos pulmões e porque o odor nauseabundo é muito intenso, Filomena colocou uma máscara para se juntar ao protesto.
Antonieta Cunha, 70 anos, também fez o mesmo. “Estou aqui de máscara por causa do cheiro, tenho problemas e não se pode suportar isto”, salientou, descrevendo o odor “como muito mau, muito intenso e diário”.
No verão, frisou, “não se pode abrir uma porta e são só melgas”.
Os manifestantes acusam a empresa Resinorte de não cumprir com o término da exploração do aterro em 2024.
“Tenho quase a certeza absoluta que o aterro já está a funcionar de forma ilegal, não tem licenciamento para o lixo que aqui está a ser hoje depositado porque o limite já foi atingido no ano passado”, afirmou o presidente da Câmara de Vila Real, o socialista Rui Santos.
A decisão de encerramento, segundo o autarca, depende do Estado central. O autarca salientou ainda que a vida das populações da zona envolvente “é um calvário”.
Em 2021, a empresa informou a câmara e juntas da zona evolvente ao aterro de que entre 2023 e 2024 procederia ao término da exploração do aterro sanitário, que em 2024/2025 realizaria a selagem definitiva da célula um e que a célula dois seria encerrada quatro a sete anos após o encerramento da exploração.
A piorar a situação, segundo o presidente da Junta de Freguesia de Andrães, Jorge Alves, ficou a saber-se que, na semana passada, a empresa pediu um parecer à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) para “depositar durante mais dois anos o lixo no aterro”.
“Claro que nós não vamos concordar e vamos fazer de tudo para poder encerrar este aterro”, frisou.
Rui Santos disse que o que se pretende é aumentar a “capacidade do aterro” e isso é “absolutamente inaceitável”, adiantando ainda que o município tem feito várias queixas e denúncias, inclusive uma participação ao Ministério Público.
Neste aterro, segundo Rui Santos, é depositado lixo de todo o país, salientando que “existem outros aterros como alternativa”.
Já há muitos anos que são constantes as queixas dos residentes das freguesias de Andrães, Folhadela, União de Freguesias de Nogueira e Ermida e União de Freguesias de Constantim e Vale Nogueiras devido aos odores intensos, desagradáveis e nauseabundos.
O mau cheiro tornou-se num “péssimo cartão de visita” de Vila Real de quem chega pela Autoestrada 24 (A24) pelo Douro ou Espanha.
Queixam-se ainda da destruição das colheitas agrárias por aves de grande porte que, atraídas pela matéria orgânica presente no aterro, destroem as culturas dos territórios envolventes.
Francisco Vieira Correia, 62 anos e residente em Mosteirô, tem terrenos próximos no aterro onde tem oliveiras, vinha e lameiros que “não dão nada por causa da bicharada e do cheiro”. “Está tudo a morrer. Aqui a agricultura não dá nada, a gente está a deixar tudo a monte, as águas estão todas contaminadas”, frisou.
Durante estes anos houve ainda alertas para derrames de lixiviados nas linhas de água ou para a deterioração da rede viária devido à circulação de viaturas pesadas.
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