Considerando que \"o património literário de uma região é de vital importância para o seu conhecimento e divulgação\", o Museu do Douro tem apostado na divulgação de obras de escritores que se debruçaram sobre o Douro. Manuel Mendes foi um deles.
\"A nossa memória não pode deixar de evocar este homem, que, não sendo transmontano (era lisboeta), veio pela primeira vez à nossa região e apaixonou-se por ela\", afirmou o vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real, Pedro Ramos. O autarca definiu ainda Manuel Mendes como \"um homem muito versátil, porque foi artista, poeta, escultor e foi um homem de intervenção da acção política, um anti-salazarista, responsável pelas campanhas de Humberto Delgado na altura da ditadura\".
Gaspar Martins Pereira, um dos responsáveis pelo Museu do Douro, explicou que esta iniciativa de promover a exposição e o lançamento do livro de Manuel Mendes \"Roteiro Sentimental do Douro\" inclui uma exposição de literatura duriense, outra das ilustrações do livro e ainda uma exposição sobre o escritor. Além disso, programou-se um conjunto de debates sobre o escritor e sobre a literatura duriense, que têm decorrido na Régua, em Vila Real e irão ainda ter lugar em Sabrosa e Mirandela. Esta exposição contou com a colaboração da Fundação Mário Soares, visto o espólio do escritor Manuel Mendes estar à sua guarda.
Apesar de hoje Manuel Mendes ser quase desconhecido, como explicou Alfredo Cadeira, responsável pelos arquivos da Fundação Mário Soares, \"foi um escritor fundamental na sua época, entre os anos 40 e 60, porque serviu de meio de ligação entre os meios artísticos e políticos, oposicionistas à ditadura, e foi sempre um homem que fez milhares de ligações pessoais, o que está muito bem representado no seu espólio através de mais de quatro mil cartas\".
Segundo Alfredo Cadeira, que conheceu pessoalmente Manuel Mendes, ele \"era um homem fascinante, um conversador espantoso, um contador de histórias, um amigo dos seus amigos, pronto para tudo\".
O livro \"Roteiro Sentimental do Douro\" foi publicado em duas edições, em 1964 e 1967, tendo ambas esgotado. A obra \"representa um dos melhores retratos do Douro dos anos 60, que nos dá um elemento essencial do património do Douro que é a memória da região antes das transformações que sofreu nas últimas décadas\", concluiu Gaspar Martins Pereira.