Visita de Estado de Sua Excelência o Presidente da República à Suíça decorreu num ambiente de festa com muitos abraços e beijinhos deixados aos emigrantes portugueses.

 

Sua Excelência o Presidente da República, prof. Marcelo Rebelo de Sousa, esteve de passagem pela Suíça entre os dias 16 e 18 de outubro. O Centre Sportif des Vernets, em Genebra, foi o local escolhido para que se proporcionasse assim o primeiro contacto com a comunidade emigrante de língua portuguesa, tendo sido contabilizadas mais de 3000 pessoas para ver, aplaudir, abraçar e trocar beijinhos com este Presidente que por onde passa deixa sempre sorrisos, no momento da chegada e saudades, na partida.

Os portugueses representam a primeira comunidade estrangeira de Genebra, seguidos pelos franceses, italianos e espanhóis, sendo uma das maiores comunidades portuguesas no estrangeiro, com cerca de 318 mil inscrições consulares. (o consulado em Genebra conta com 138 mil inscrições e o de Berna com 53 mil) mas, serão muitos mais os portugueses na Suíça.

Segundo a Secretaria de Estado das Migrações helvética, no final de julho, residiam neste país 277.044 cidadãos portugueses, representando13% da população estrangeira (somos a terceira maior comunidade, só ultrapassados pelos Italianos e pelos Alemães.).  As principais áreas de fixação da comunidade portuguesa são os cantões de Vaud (22%), Genebra (13%), Valais (11%) e Zurique (10%)

 

A construção civil, a hotelaria, a restauração e a agricultura são os sectores de atividade económica onde mais se encontram os portugueses.

 

Este primeiro contacto que houve com os emigrantes portugueses em Genebra, decorreu num pavilhão de hóquei no gelo, por onde desfilaram os ranchos folclóricos portugueses desta cidade e ainda alguns grupos que vieram de outros cantões da Suíça.

No momento de discursar, o Exmo. Sr. Presidente da República referiu estar muito contente com a cerimónia e o apoio recebido dos emigrantes pois aqui "Não se sente o gelo porque o calor humano criado pelos portugueses surpreende até os suíços." Marcelo Rebelo de Sousa revelou-se assim um Chefe do Estado "otimista" com o futuro de Portugal. "É o maior e melhor país do mundo", disse o Presidente da República, rematando a ideia de que não é "um país do passado" mas "do futuro" e muito satisfeito com as excelentes relações destes dois países.

No meio do público, Reto Mónico, um reconhecido historiador de origem da Suíça italiana, mas com a paixão pela língua de Camões, até porque é também Membro Académico da ALALS (Academia de Letras e Artes Luso-Suíça), “estava muito satisfeito pela visita do Exmo. Sr. Presidente da República, pelo facto de ser uma pessoa muito acessível, sem cerimónias nestes momentos oficiais e sempre pronta a dar atenção aos problemas do povo português”.

No dia seguinte toda a comitiva do governo que veio de Portugal partiu de comboio até Berna, onde foram depois recebidos pelo Presidente da Confederação Suíça, os outros membros do Conselho Federal e o Chanceler da Confederação, Walter Thurnherr.

Houve ainda tempo para fazerem uma visita à empresa RondoSA, em Burgdorf. O presidente da República visitou esta empresa por considerar ser um exemplo daquilo a que os suíços chamam de “vocational training”. É usual neste país, os alunos a partir dos 15 anos escolherem aprender uma profissão no próprio local de trabalho, isto é, 4 a 5 vezes por semana com trabalho prático, por exemplo numa fábrica, e um ou dois dias vão à escola. 70% dos Suíços opta por esta via e apenas 20% é que seguem diretamente para a faculdade. Isto permite à Suíça ter profissionais altamente qualificados, assim como formar pessoas conforme as necessidades do mercado de trabalho, isto é, para os postos de trabalho existentes, não existindo excedente de mão-de-obra numa área específica.

 

Presidente defende o sistema de ensino profissional dos suíços e não o modelo "discriminatório" e "precoce" que existia em Portugal .

 

A encerrar a visita de Estado à Suíça, Marcelo Rebelo de Sousa criticou o anterior o governo de Passos Coelho por ter apresentado uma proposta para o sistema de ensino dual "discriminatório" que obrigava a escolhas "precoces". O Presidente considerou que o atual governo "não pode desperdiçar" a oferta do Presidente suíço, para a transmissão de know-how, sobre o sistema que permite combinar educação com saídas profissionais.

"Aquilo a que assistimos aqui hoje não é o que estava previsto em Portugal", na proposta apresentada pelo anterior executivo "a escolha [de uma profissão] era muito mais cedo, era precoce", criticou, salientando que na Suíça são "jovens mais velhos que, numa fase ulterior, fazem essa escolha".

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que acompanhou o Presidente nesta visita, esclareceu que "a decisão do atual governo" acabou com cursos vocacionais "para 12 anos de idade", mas "aproxima o modelo português do modelo suíço", uma vez que não acaba com o ensino vocacional e está aberto a "mais empresas portuguesas que queiram aderir a este sistema".

Augusto Santos Silva acrescentou ainda que: “O que acontece na Suíça é que as empresas estão muito mais envolvidas no ensino vocacional do que em Portugal. Esse é um caminho que nós temos de fazer por aproximação", disse o governante, acrescentando que "é preciso trazer mais empresas para participarem mais intensamente nos cursos profissionais".

Durante a visita à fábrica de máquinas para a indústria panificadora, o presidente da confederação Suíça, Johann Schneider-Ammann, incentivou as empresas suíças, com filiais em Portugal, para contribuírem para a implementação do ensino vocacional. "Propus-me a contactar as empresas suíças com filiais em Portugal, que conhecem a filosofia do sistema de aprendizagem suíço, e eles podem replicar o conhecimento e a maneira de fazer nas filiais em Portugal. Porque não?", referiu o presidente suíço.

"Ofereci ao Presidente de Portugal o meu envolvimento pessoal para ajudar nos contactos, para vermos o que podemos fazer. Isto tem de traduzir-se na prática e não apenas em teoria", disse Johann Schneider-Ammann.

Marcelo considerou a proposta "muito útil, porque há muitas empresas suíças em Portugal, que podem encontrar uma forma de formação profissional para estudantes portugueses, que sigam essa via vocacional que é diferente da via clássica". O Presidente sente que o governo não pode agora "desperdiçar a oportunidade oferecida pela Suíça", sem, no entanto, "copiar modelos tal como eles são".

Marcelo Rebelo de Sousa refere, no entanto, que "se deve olhar para a experiência de países que estão uns passos à frente, em termos económicos e em termos sociais, para ver o que pode suceder na Europa e no mundo daqui por uns anos".

 

Autor: Augusto Lopes (escritor e jornalista)

Fotografias: Carlos Serra

 


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