Há quem se aproveite do calor dos autocarros para se aquecer e há quem tenha de \"rapar os pratos\" que encontra para se alimentar.

Numa cidade onde já vivem perto de 200 mil portugueses, a nova vaga de emigrantes enfrenta muitas vezes grandes dificuldades. Há quem se aproveite do calor dos autocarros para se aquecer e há quem tenha de «rapar os pratos» que encontra para se alimentar.

Passam fome, procuram restos de comida, pedem ajuda à polícia e à Igreja, dormem nos autocarros e nos albergues dos sem-abrigo. É o retrato da nova vaga da emigração portuguesa em Londres, onde o aluguer de um quarto chega a custar 500 euros por mês e um simples café 1,40 euros.

Numa cidade onde já vivem perto de 200 mil portugueses, a nova vaga de emigrantes enfrenta muitas vezes grandes dificuldades. Em declarações à Renascença, o padre Pedro Rodrigues, responsável da missão católica portuguesa de Londres, precisa o que se está a passar. \"Olham para eles com algum receio, porque vêm tirar os empregos dos que cá estão. Preocupam-se porque não sabem como hão-de responder a isto. Há medo\".

Os novos emigrantes têm pela frente dias difíceis. “Sentem-se enganados quando chegam a esta terra sem uma resposta a nível de alojamento e a nível de emprego”, conta o padre. “Vêm simplesmente à nora. Há uns que vêm bater à porta da polícia, às casas de albergue dos sem-abrigo e depois bater à porta das igrejas. É a hipótese que têm. É tudo para a refeição\".

\"Por aquilo que nós ouvimos dizer”, continua o padre Pedro Rodrigues, \"há pessoas que se aproveitam do calor que os autocarros aqui têm para pelo menos estar durante algum tempo\". \"Os novos emigrantes já disseram que iam rapar os pratos que encontravam pelo sítio onde passavam\".

\"Há fome, sim, as pessoas que vêm com 20 euros para uma cidade que é tão cara é normal que se privem e que vão para um copo de leite, que dá mais energia\".

No caso dos novos emigrantes, o padre Pedro Rodrigues não tem dúvidas: a viver nestas condições, é possível falar em \"escravatura\". A Igreja procura acompanhar os casos dramáticos.

O padre Pedro Rodrigues explica que se paga cerca de 500 euros, \"no mínimo, por um quarto mísero, pequeno, sem casa de banho particular\". \"Se vierem mais [emigrantes], é insustentável. Tem de se pensar sempre quase que no dobro. A média geral de um café custa 60,70,80 cêntimos, aqui custa o equivalente a 1,20, 1,40 euros. Se formos a um restaurante, aí temos uma refeição pelos 12 a 17 euros\".

\"Se quiserem viver como animais, é capaz de dar. Se é para dizer ‘quero uma vida digna, não quero ser escravo\", é difícil de vir agora e encontrar um emprego de jeito. Já são os novos escravos, não é \"podem vir a ser\" – são os novos escravos”, conclui o padre Pedro Rodrigues.



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