A região de Trás-os-Montes surge atualmente nas estatísticas nacionais com baixos indicadores económicos e sociais, mas já foi um importante centro económico e cultural movido por empreendedores judeus, como foi revelado esta quinta-feira num congresso internacional, em Bragança.

O congresso integra o Terras de Sefarad apresentado como um evento único de âmbito internacional, que durante quatro dias aborda, em Bragança, a herança dos sefarditas (os judeus da Península Ibérica) e envolve exposições, concertos e cinema.

O evento chama a atenção para a memória judaica e surpreendeu algumas das mais de 200 pessoas presentes na abertura do congresso internacional com dados sobre a dimensão da presença do judaísmo na região anfitriã do evento.

"No caso de Bragança, há 500 anos toda a zona de Trás-os-Montes não era nem em termos de desertificação, nem de economia o que nós hoje temos como estereótipo. Existiam aqui inúmeros empreendedores tinha lugar aqui inovação, existiam centros culturais", apontou Paulo Mendes Pinto, coordenador do congresso.

Trás-os-Montes não era uma periferia, era um centro, como vincou, defendendo que esta memória sefardita tem "quase um sentido pedagógico" para mostrar "que é possível que não é irremediável ser-se periferia, pode-se ser centro".

O responsável destacou que é a primeira vez que se realiza um evento desta dimensão dedicado à temática das culturas sefardita e judaica, apoiado pela Câmara de Bragança e coordenado pela única instituição académica portuguesa dedicada aos estudos sefarditas, a Cátedra dos Estudos Sefarditas da Faculdade de Letras de Lisboa.

Em Portugal, tem merecido a atenção de alguns municípios, nomeadamente dos 40 que fazem parte da Rede de Judiarias, 12 dos quais já inauguraram espaços dedicados à memória sefardita, apoiados por um projeto muito mais vasto financiado por um programa da União Europeia que possibilitou esses vários investimentos.

O município de Bragança investiu nos últimos tempos 1,7 milhões de euros no evento que começou hoje e decorre até domingo e em dois equipamentos culturais, o Centro de Interpretação de Cultura Sefardita e o Memorial e Centro de Documentação, como elencou o presidente da Câmara, Hernâni Dias.

O autarca confessou que "não tinha esta noção clara da importância que Bragança teve nesta temática", o que o leva a pensar em "avançar com a organização de mais eventos e trabalho conjunto de investigação".

Com as iniciativas já concretizadas, o presidente do município espera "despertar a atenção dos investigadores, especialistas, conhecedores" e fazer com que Bragança "ganhe um papel importante na rota do turismo da cultura judaica" e possa assumir-se "como um grande centro da cultura judaica" que já o foi.

A embaixadora de Israel em Portugal, Tzipora Rimon, esteve presente na abertura do congresso internacional e realçou "o grande papel histórico de Bragança" na memória judaica.

A diplomata afirmou que gosta de conhecer os locais onde existem marcas desta herança e referiu o crescimento da investigação e também novos centros sobre o judaísmo, nos últimos anos.
Foto: CMB



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