O Centro Interpretativo do Barco Rabelo é inaugurado na segunda-feira em Mesão Frio e homenageia as embarcações que antigamente transportavam o vinho da região do Douro para o Porto e os homens do concelho que cruzavam o rio.

O novo espaço está instalado na desativada escola primária da Rede, que foi requalificada e reabre as portas para partilhar as memórias das gentes que, durante séculos, viveram do rio e para o rio.

O presidente da Câmara de Mesão Frio, Alberto Pereira, fez uma visita guiada à agência Lusa e afirmou hoje que neste centro interpretativo se tentou “reproduzir a história de um povo”.

O barco rabelo é o elemento central deste centro interpretativo. Trata-se de uma embarcação típica do rio Douro que, antigamente, transportava as pipas de vinho do Porto da região demarcada, onde as vinhas se localizam, até Vila Nova de Gaia – Porto, onde o vinho era armazenado e, posteriormente, comercializado e exportado.

Os rabelos desciam o rio carregados de vinho e, no regresso, traziam bens que não eram produzidos na região, como sal ou peixe.

Mas, neste espaço são também lembradas as barcas de passagem que, em quatro pontos do concelho – Porto de Rei, Barqueiros, Rede e Granjão - faziam o transporte de pessoas, bens e animais entre as margens do rio.

“O Douro tinha pouquíssimas pontes e as pessoas passavam de uma margem para a outra através dessas barcas”, explicou Alberto Pereira.

O autarca frisou que o centro interpretativo é também uma homenagem aos barqueiros (que andavam nas barcas) arrais (mestres ou proprietários das embarcações) e mareantes (marinheiros).

A documentação histórica refere que, em 1796, a localidade de Barqueiros (Mesão Frio) contava com 54 arrais e 293 marinheiros.

“Toda aquela população vivia para o Douro”, frisou o presidente.

Conhecido por ser um rio de “mau navegar”, por causa das fortes correntes e obstáculos, Alberto Pereira contou que os “marinheiros do concelho eram dos mais solicitados porque eram aqueles que melhor conduziam os barcos”.

Com a construção do caminho-de-ferro, em finais do século XIX, o transporte fluvial começou a perder importância.

Em 1965, com o início das obras de construção da barragem de Carrapatelo, termina definitivamente a navegação tradicional no rio Douro.

A escola primária foi dividida em quatro espaços. Na receção estão expostos produtos da região desde o vinho, os biscoitos tradicionais e artesanato, como as castanhetas de Barqueiros (castanholas), um instrumento que os homens do rancho daquela localidade tocam com as mãos durante a sua música tradicional, a chula.

As antigas salas de aula, masculina e feminina, uniram-se para o espaço da exposição, há ainda um pequeno auditório para projeção de filmes dedicados ao barco rabelo e ao Douro e instalações sanitárias.

No espaço principal pode ver-se um rabelo desenhado na parede, com a descrição dos elementos que caracterizavam esta embarcação. No centro da sala estão recriadas algumas das partes que constituem o barco, como a vela, a espadela (remo longo à popa) ou a sirga, um mecanismo de corda através da qual a embarcação era puxada por homens ou juntas de bois nos sítios de pouco vento ou caudal curto.

Há ainda pipas de vinho do Porto, utensílios usados pelos marinheiros a bordo como a buzina que servia para anunciar a chegada do barco e chamar os homens ou os boieiros (que tinham as juntas de bois), uma imagem da Senhora da Boa Viagem, fotografias e réplicas de um rabelo e de uma barca.

O projeto representa um investimento de cerca de 250 mil euros e conta com financiamento do programa Provere – Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos.

Alberto Pereira salientou que, nesta intervenção, foi mantida toda a estrutura original da escola, localizada junto à Estrada Nacional (EN) 108 e que fechou há 12 anos por falta de alunos.

O Centro Interpretativo do Barco Rabelo é inaugurado na segunda-feira, numa pequena cerimónia que conta com a presença da secretária de Estado da Valorização do Interior, Isabel Ferreira.

O espaço abre as portas aos visitantes a partir de 02 de dezembro e a entrada é gratuita.

No mesmo dia é apresentada a obra “Rabelos & Barcas de Passagem no concelho de Mesão Frio”, da autoria de B. Vieira de Oliveira.

O centro interpretativo pretende ser mais um polo de atração turística para este município do distrito de Vila Real, onde já é possível visitar o Museu do Triciclo, o Centro Interpretativo do Castro de Cidadelhe e a Casa-Museu do Escritor Domingos Monteiro.



PARTILHAR:

Miranda do Douro teme que clima de medo impeça compras de espanhóis

Contabilista de Chaves na base de fraude de 2,5 ME em fundos europeus