A população dos seis concelhos do Alto Tâmega bloqueou hoje, durante duas horas, o trânsito na estrada que liga Chaves à fronteira com Espanha, em protesto contra a reestruturação das urgências prevista para esta região.
A proposta da Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências prevê a desclassificação das urgências do Hospital Distrital de Chaves, que actualmente apresentam características médico-cirúrgicas, para uma urgência básica e ainda o encerramento do serviço de urgência existente em Vila Pouca de Aguiar.
A manifestação, que reuniu milhares de pessoas dos concelhos de Chaves (PSD), Montalegre (PS), Boticas (PSD), Ribeira de Pena (PSD- CDS/PP), Valpaços (PSD) e Vila Pouca de Aguiar (PSD-CDS/PP), começou com duas marchas lentas a partir do centro de Chaves e de Vila Pouca de Aguiar até à fronteira de Vila Verde da Raia.
As marchas chegaram a formar filas de cerca de 18 quilómetros na Estrada Nacional 2, de cerca de 14 quilómetros na auto-estrada 24 e de 15 quilómetros já em território espanhol.
às centenas de automóveis juntaram-se cerca de 20 carros de bombeiros, com as sirenes ligadas, das nove corporações do Alto Tâmega onde se podia ler, em cartazes, «socorro!... Ajudem o hospital».
O ponto alto do protesto aconteceu quando um dos populares chegou ao local empunhando uma bandeira de Espanha, o que motivou uma enorme salva de palmas e gritos de muitos a pedir para serem anexados ao país vizinho.
A manifestação juntou representantes dos partidos políticos do Alto Tâmega, com o presidente da concelhia do PS de Chaves e afirmar que, se o ministro da Saúde Correia de Campos acatar as propostas da comissão, demitir-se-á do cargo.
Por sua vez, o Governador Civil de Vila Real, António Martinho, disse à Lusa que a proposta da comissão é «apenas um documento técnico» e que «ainda não há qualquer decisão política sobre o assunto».
Acrescentou que o ministro da Saúde vai ouvir todos os autarcas antes de tomar uma decisão e que, ao integrar o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, Chaves garante a «manutenção da urgência tal como está», ou seja, com características médico-cirúrgicas.
Para o presidente da Câmara de Chaves, João Baptista, a proposta da comissão vem contrariar o que ficou estipulado nas negociações para a criação do centro hospitalar, pelo que as populações temem ver as urgências desclassificadas.
Em Vila Pouca de Aguiar está em causa o encerramento do Serviço de Atendimento de Situações Urgentes (SASU), que o autarca Domingos Dias diz estar previsto no documento técnico.
«A proposta fala em encerramento da nossa urgência», frisou Domingos Dias.
Refira-se que os seis autarcas da Associação de Municípios do Alto Tâmega solicitaram uma audiência com o ministro Correia de Campos a 06 de Fevereiro, para a qual ainda não obtiveram resposta.
Os manifestantes alegam que o hospital de Chaves serve as populações dos concelhos vizinhos de Valpaços, Boticas e Montalegre, contemplando uma população de cerca de 80.000 pessoas.
Sublinham que algumas localidades de Chaves já ficam actualmente a mais de 45 minutos de distância da urgência e que a distância entre esta cidade e Vila Real é de mais de 70 quilómetros, mesmo com a abertura da auto-estrada prevista para Julho.
João Baptista referiu ainda que o documento técnico omite «inexplicavelmente» o item «pólo turístico relevante», que era considerado no primeiro relatório, recordando que as termas de Chaves, de Vidago, Pedras Salgadas e Carvalhelhos constituem o «maior complexo turístico do país».
Por seu turno, o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, refere que a área de influência do serviço de urgências do centro de saúde de Vila Pouca de Aguiar se estende ao concelho vizinho de Ribeira de Pena, que não dispõe do serviço no período nocturno.
Salientou que o seu concelho se tornou «num importante» eixo viário da região transmontana, onde confluem as auto-estradas A24 e A7, o que «faz aumentar o risco da ocorrência de acidentes de viação».