Miranda do Douro, no distrito de Bragança, retoma no domingo a cerimónia de exaltação da Capa de Honras tida como o ’ex-líbris’ do vestuário do Planalto Mirandês, sendo esperados cerca 200 pessoas de Portugal e Espanha, foi hoje divulgado.
“Durante dois anos, a pandemia fez com que o anterior executivo não pudesse realizar esta cerimónia. Para nós é a primeira vez que vamos realizar a exaltação da Capa de Honras Mirandesa e vamos fazê-lo com entusiasmo”, disse à Lusa a presidente da câmara de Miranda do Douro, Helena Barril.
A autarca refere ainda que esta cerimónia se realiza com outra motivação, já que durante dois anos a pandemia restringiu este tipo de atividades e convívio entre portugueses e espanhóis.
“O agrado em realizar veio no tempo certo, visto que estamos a inscrever a Capa de Honras na matriz do Património Cultural Mirandês, para preservar e reforçar a identidade e valor desta peculiar peça de vestuário”, vincou.
Para Helena Barril, o processo de inscrição do Capa de Honra Mirandesa na matriz do Património Cultural Mirandês, é o início de um caminho que poderá levar à inscrição desta peça de vestuário única numa matriz nacional.
“A Capa de Honras terá para nós sempre valor acrescido, mas quanto mais chamarmos a atenção mais importância poderá adquirir no panorama nacional”, concretizou.
Autarquia de Miranda do Douro vai aproveitar esta cerimónia para homenagear, Aureliano Ribeiro, já falecido e tido como um dos grandes artesãos da Capa de Honra Mirandesa, que defendia “que esta peça de vestuário está vez mais na moda”, como disse à Lusa em 2016.
“O Senhor Aureliano [Ribeiro] é uma das grandes referências na confeção da Capa de Honras Mirandesa”, disse.
Para além da homenagem haverá uma cerimónia religiosa e um desfile de homens e mulheres trajados com a Capas de Honras Mirandesa pelas ruas desta cidade do Nordeste Transmontano.
A capa de Honras Mirandesa vai continuar a ser perpetuada no tempo com várias manifestações como a do estilista português Nuno Gama, que já se tinha inspirado na capa mirandesa para a apresentação da sua coleção durante a ModaLisboa 2018.
Também o designer francês Christian Louboutin se inspirou na Capa de Honras Mirandesa para a apresentação de uma das suas coleções, em 2019.
Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco vestiu uma Capa de Honras oferecida pelo município de Miranda do Douro.
De um agasalho de guardadores de gado até uma peça de vestuário que "está na moda", a tradicional Capa de Honras Mirandesa está a conquistar espaço num panorama do vestuário tradicional português, onde se confecionam chapéus, capas, carteiras e outras indumentárias que são usadas um pouco por todo o país e Europa, tanto por homens como por mulheres.
Atualmente, é apenas utilizada em cerimónias protocolares ou atos de importância relevante. No entanto, é usual oferecer uma capa de honras às pessoas distintas que visitam o município de Miranda do Douro.
A Capa de Honras Mirandesa, feita de pardo ou burel (lã de ovelha), é já utilizada pelos noivos no dia de casamento.
De acordo com o historiador António Rodrigues Mourinho, a origem da capa de honras mirandesa remonta aos séculos IX ou X, portanto medieval, tendo origem na “capa de chiba” que, traduzido do espanhol para português, quer dizer “capa de cabra”.
Segundo o historiador, apesar de se pensar que esta peça 'sui generis' ser de origem medieval, só há dois documentos conhecidos até agora que referem este tipo de capa e são datados de 1819 e 1828.
O número de capas de honras mirandesa "é indeterminado". No entanto, ao longo dos tempos "muitos exemplares foram feitos" e transitaram de geração em geração, assumindo-se como um valor familiar de relevante importância.
Este património, está igualmente associado às regiões espanholas de Aliste e Zamora, onde há muitas semelhanças entre as capas já que é apenas uma linha de fronteira que separa os dois povos.
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