A presidente da Câmara de Miranda do Douro, Helena Barril, apelou hoje à participação de todos na defesa do futuro da língua mirandesa, após a revelação de um estudo que dá conta de que este idioma está numa “situação crítica”.

“Não podemos enterrar a cabeça na areia e fazer de conta que não há problemas com a língua mirandesa. É natural que olhemos para este estudo da Universidade de Vigo com preocupação. Por este motivo é importante a participação de todos na defesa da nossa língua mãe”, disse à Lusa a autarca social-democrata do distrito de Bragança.

De acordo com um estudo revelado na terça-feira pela Universidade de Vigo, a língua mirandesa está numa situação “muito crítica" devido ao abandono desta forma de falar por parte de entidades públicas e privadas.

“Enquanto autarca, assumo esta questão grave e dramática. Mas historicamente também há responsabilidades que têm de ser apontadas a vários quadrantes e quem poderia ter feito mais e não o fez. Agora, e em colaboração com várias entidades, que achamos que são as mais indicadas, todos juntos vamos unir esforços para a defesa e promoção da língua mirandesa como sendo uma obrigação”, vincou Helena Barril.

No que toca ao ensino da língua mirandesa, a autarca disse que tem havido “melhoria substancial” nos últimos anos e que se deu “um passo em frente”.

“Apesar de estar inscrita no Orçamento do Estado (OE) uma verba de 100 mil euros para a criação de um organismo de defesa da língua mirandesa, pretendemos que o assunto não fique só pelo papel. Exigimos a criação do Instituto da Língua Mirandesa”, defendeu a autarca de Miranda do Douro.

Para Helena Barril, é também importante a assinatura da Carta Europeia das Língua Minoritária.

“O mirandês é o mais notável elemento de união e de coesão de todos os mirandeses e é também a nossa principal marca identitária e distintiva. É, ao mesmo tempo, um poderoso fator de desenvolvimento económico, é a base da nossa cultura, que também nos distingue, e desempenha um papel de integração social fundamental. Não exageramos se dissermos que o mirandês é a maior de muitas das nossas vantagens competitivas no contexto nacional, europeu e internacional”, enfatizou.

A autarca desafiou ainda universidades e institutos politécnicos a juntar-se à defesa da língua mirandesa.

De acordo com a autarquia de Miranda do Douro, “as instituições locais, municipais, nacionais e europeias, mas acima de tudo o povo da ‘Terra de Miranda’, em conjunto, individualmente ou em grupo, têm o dever e o direito de se envolver e todos colaborar nesta missão, incluindo aqueles que não sabendo falar mirandês reconhecem a sua importância e o seu valor”.

Iniciado em 2020, o estudo da universidade galega estimou em cerca de 3.500 o número de pessoas que conhecem a língua, com cerca de 1.500 a usá-la regularmente, identificando uma rotura com este idioma, sobretudo nas gerações mais novas, através de uma "forte portugalização linguística", assente em particular na profusão dos meios de comunicação nas últimas décadas, e na identificação do mirandês com ruralidade e pobreza locais.

Este estudo tem por base 350 inquéritos feitos à população do concelho de Miranda do Douro, no distrito de Bragança, em março de 2020, por uma equipa de alunos da Universidade de Vigo, designada por "Brigada da la Léngua" (Brigada da Língua).

Para os responsáveis pelo estudo “Usos, Atitudes i Cumpetencias Lhenguíticas de la Populacon Mirandesa”, as autoridades portuguesas “têm a obrigação de proteger e salvaguardar o mirandês para toda a humanidade, como protege e investe no lince ibérico ou nas florestas autóctones".

As conclusões do estudo a que a Lusa teve acesso apontam que a rotura com este idioma transmontano se dá "sobretudo nos nascidos entre 1960-1980", quando "se operou uma forte portugalização linguística", através "da imprensa, rádio, TV, escola e administração pública”.

Mantendo-se a situação, "a este ritmo é possível que o mirandês morra antes [dos próximos] 30 anos", conservando-se apenas como "um latim litúrgico para celebrações", sem ser "língua para viver a diário", indicou o estudo que ainda não tem data para a sua apresentação oficial.

Este trabalho contou com a colaboração da Associação de Língua e Cultura Mirandesa e do município de Miranda do Douro.

A língua mirandesa é uma língua oficial de Portugal desde 29 de janeiro de 1999, data em que foi publicada em Diário da República a lei que reconheceu oficialmente os direitos linguísticos da comunidade mirandesa.

Foto: AP



PARTILHAR:

Vereador a quem a concelhia do PS/Moncorvo retirou confiança mantém-se no cargo

GNR com investimento de cinco milhões de euros no distrito de Bragança