Mogadouro prepara-se para receber o projeto "Teatro em Espaço Rural", com estreia marcada para sábado, que ao longo de um mês e meio vai levar as artes cénicas às aldeias do concelho com a peça "Estas senhoras são umas vedetas".
A trama envolve Simone e Sylvie, duas amigas que escolheram ser atrizes. Uma é loira e outra é morena, com personalidades contrastantes. As duas atrizes são "desconhecidas" do grande público e procuram uma hipótese para deixar o anonimato e dar o grande salto para as luzes da ribalta.
A história destas duas mulheres conta-se em "Les Charlottes", uma peça escrita pelo dramaturgo francês Lucien Lambert, que Rui Silva adaptou e agora encena.
Claudia Lazaro e Beatriz Batista encarnam as personagens criadas por Lambert, que farão de tudo ao longo de mais de uma hora para tentar ser uma vedeta, apesar da pouca experiência, acumulada num anúncio a uma pasta de dentes.
Este é o ponto de partida para a iniciativa cultural “Teatro em Espaço Rural”, que tem estreia marcada para sábado e pretende levar as artes cénicas às 21 freguesias e uniões de freguesia do concelho de Mogadouro, até ao dia 23 de junho.
No palco da Casa da Cultura de Mogadouro, os ensaios já atingiram a reta final, o ambiente é descontraído, cada um sabe o que fazer.
Tanto o encenador como as atrizes já passaram por outras produções e agora é tempo de levar o teatro ao interior e fazer rir as populações, principalmente a mais idosa, que por vezes passa o seu tempo sentada na soleira de uma porta partilhando dois dedos de conversa com quem passa.
"’Teatro em Espaço Rural’ pretende ser uma tentativa de construção das artes cénicas em espaço rural como forma de levar o teatro às aldeias do interior profundo já que sem este tipo de iniciativa não era possível devido à idade avançada da maioria das pessoas", explicou à Lusa a vereadora com o pelouro da Cultura no município de Mogadouro, Virgínia Vieira.
Por seu lado, o encenador Rui Silva adianta que uma das ideias desta peça passa por fomentar a investigação na comunidade das aldeias de Mogadouro, tanto na linguagem como nos conteúdos específicos que se quer questionar, sendo incorporadas no espetáculo diversas manifestações típicas do território.
Este trabalho conta ainda com a chamada "prata da casa" já que as músicas que fazem parte da banda sonora são da autoria de Manuel Fernandes. A parte técnica está cargo de funcionários de município.
Na primeira vez que este tipo de iniciativa foi experimentada, de forma mais tímida, no concelho de Mogadouro, decorria o ano de 2016, quando uma outra peça passou por todo o concelho e conseguiu juntar, em algumas aldeias, plateias com mais de uma centena de pessoas.
"Juntar uma centenas de pessoas em algumas aldeias, muitas delas despovoadas, não é fácil. Isto só é possível porque há familiares que vêm de fora para assistir à representação e as pessoas gostam de teatro", lembra Rui Silva.
Por seu lado, para a atriz Claudia Lazaro esta é uma oportunidade de as pessoas das aldeias poderem assistir a peças de teatro com atrizes profissionais que trabalham para a comunidade.
"Estou com uma grande expectativa em relação ao que vai acontecer, durante o próximo mês e meio e tentar conversar com as pessoas e perceber um pouco daquilo que ficou desta peça de teatro", enfatizou a atriz.
O teatro tem tradição em Mogadouro, pelo menos desde o início do século XX, onde chegou a existir uma sala de espetáculos, que muitos descrevem como "uma mini-réplica do Teatro Nacional São João, no Porto". Contudo, memórias desses tempos só mesmo em fotografia.
Foto: CMM