A histórica aldeia de Rio de Onor assistiu hoje ao selar de um compromisso entre portugueses e espanhóis, que ambiciona efetivar a nível institucional a cooperação que já caracteriza as gentes da localidade raiana.
Rio de Onor, de Bragança e Rihonor, de Castela, são dois países num povo que no quotidiano nunca teve na fronteira as barreiras que o Norte de Portugal e a região espanhola de Castela e Leão se propõem começar a atenuar, tendo como impulso uma rota de moinhos e lameiros para encontrar o caminho da cooperação transfronteiriça.
O projeto parte de quatro despovoadas aldeias portuguesas, com pouco mais de 230 habitantes, das quais faz parte Rio de Onor, e que mereceu a atenção de altos representantes dos dois lados da fronteira, que se juntaram hoje para apadrinhar a ideia e comprometeram-se torná-la realidade.
A iniciativa surgiu de um encontro ocasional em Espanha entre Maria de Lurdes Vale, diretora do Turismo de Portugal e o presidente da União de Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, Mário Gomes, que lhe mostrou o património existente nas quatro aldeias, em que se incluem ainda Verga e Guadramil.
Os moinhos existentes ao longo de 34 quilómetros chamaram a atenção, na medida em que também Espanha tem um projeto idêntico, e assim começou a desenhar-se a Rota dos Moinhos e Lameiros.
O projeto, como explicou hoje o autarca, está “numa fase de estudo prévio e de angariar apoios políticos”, que se manifestaram numa apresentação com a presença das secretárias de Estado portuguesas do Turismo e para a Valorização do Interior, do equivalente ao ministro do Turismo na junta de Castela e Leão, autarcas, outras entidades e o embaixador de Portugal em Espanha.
As quatro aldeias portuguesas têm 12 moinhos, dez deles no projeto, com a possibilidade de serem mais dois, mais um lagar de vinho antigo e uma ferraria romana, assim como duas antigas escolas primárias e duas antigas casas do médico.
O propósito é reaproveitar estes edifícios para, no caso dos moinhos, proporcionar experiências nos quatro que ainda têm a atividade moleira, outros para experiências virtuais, para pernoitar e para observação de aves, fauna e flora.
Na rota querem incluir também três casas dos aguardas florestais, que poderão ser utilizadas como centro etnográfico, com incidência na história dos tradicionais caretos (mascarados) das festas dos rapazes, como centro de investigação para recuperar e preservar duas línguas locais, o Rionorês e Guadramilês, faladas apenas por três pessoas.
A rota inclui também os lameiros ligados à agricultura, nomeadamente ao pastoreio e os diferentes equipamentos estarão ligados por percursos pedestres homologados, a partir dos caminhos existentes utilizados pelos antepassados.
Para este projeto avançar, o presidente da união de freguesias pediu aos espanhóis para colaborarem “fazendo da cooperação transfronteiriça uma realidade efetiva” e sublinhando que “existe muito pouca”.
“Fala-se muito de facto, em qualquer evento há sempre essa componente da cooperação transfronteiriça, mas depois não se conhece na zona algum caso em que tenha havido essa dita cooperação”, enfatizou.
O Conselheiro para o Turismo e Cultura da Junta de Castela e Leão, Javier Ortega, garantiu que esta colaboração faz parte da aposta de Castela e Leão “de uma estratégia conjunta com nossos irmãos e vizinhos de Portugal no momento de elaborar projetos que impliquem uma marca única de Castela e Leão com Portugal”.
Deu o exemplo do que já existe no Douro Internacional e o segundo será esta rota dos moinhos e lameiros.
Garantiu que a atual administração está empenhada na cooperação de Castela e Leão com o Norte de Portugal, quando questionado sobre esta cooperação ainda não ter o desenvolvimento da existente entre o Norte de Portugal e a Galiza.
“Vamos colaborar porque juntos, Espanha e Portugal, podemos ser muito mais fortes, podemos oferecer uma marca, uma imagem, uma reputação que de outra maneira durante muitos anos não tivemos. Vão contar connosco para desenvolver este projeto para dinamizar economicamente e socialmente este território”, afirmou.
O Embaixador de Portugal em Espanha, João Mira-Gomes, salientou que o papel da função que desempenha é este mesmo; “construir pontes, facilitar contactos” e foi o que fez juntando membros da administração central e local de Portugal na apresentação do projeto, assim como “convidando os nossos amigos espanhóis porque este projeto faz mais sentido com a dimensão transfronteiriça”
“E acho que saímos daqui todos com a convicção de que este projeto vai passar do sonho à realidade”.
A secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, prometeu “enviar uma equipa do Turismo de Portugal para ajudar a estruturar e melhorar este projeto” e a “encontrar os instrumentos” necessários.
A Secretária de Estado para a Valorização do Interior, Isabel Ferreira, considerou que a rota dos moinhos e dos lameiros é um projeto que “encaixa perfeitamente” no próximo programa transfronteiriço Interreg.
O autarca local ainda não tem valores, mas aponta para a necessidade de “meio milhão de euros”.
A secretária de Estado lembrou que também os programas de recuperação e resiliência português e espanhol têm medidas ligadas às aldeias e à recuperação de aldeias despovoadas, como o são estas quatro localidades raianas.
Na aldeia de Aveleda vivem 80 pessoas, em Varge 82, em Rio de Onor 48, e em Guadramil 22, com uma média de idades, nesta última, superior a 87 anos.
Chamar gente, aproveitando a “matéria-prima” existente, em que se destaca o património natural, em pleno Parque Natural de Montesinho, é o objetivo desta rota.