O antigo presidente do CDS Adriano Moreira morreu hoje aos 100 anos, confirmou hoje à Lusa fonte do partido.

Adriano Moreira foi ministro do Ultramar no período da ditadura e antigo presidente do CDS, tendo completado 100 anos em setembro.

Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, em 06 de setembro de 1922.

 

Adriano Moreira: Cerimónias fúnebres começam segunda-feira no Mosteiro dos Jerónimos

O velório de Adriano Moreira, que morreu hoje aos 100 anos, está marcado para segunda-feira no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, a partir das 20:00.

Fonte oficial do CDS-PP adiantou à agência Lusa que as cerimónias fúnebres do antigo presidente do partido começam na segunda-feira e prolongam-se até terça-feira, dia em que terminam com o funeral reservado à família.

Segunda-feira, a partir das 20:00, decorre o velório no Mosteiro dos Jerónimos, local para onde está marcada a missa, no dia seguinte, terça-feira, às 12:00.

Segue-se o funeral que será reservado à família de Adriano Moreira, de acordo com a mesma fonte.

 

PERFIL: Adriano Moreira

Adriano Moreira, que morreu hoje com 100 anos, foi ministro do Ultramar no período da ditadura e presidente do CDS já em democracia, tornando-se uma das figuras mais prestigiadas dos séculos XX e XXI. 

Condecorado pelo Presidente da República em junho com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, antes de completar 100 anos em 06 de setembro, destacou-se não só como político e estadista, mas também como professor universitário e pensador em matéria de Relações Internacionais.

Ex-membro do Conselho de Estado indicado pelo CDS-PP, Adriano Moreira teve um percurso académico e político dividido entre dois regimes, tendo sido ministro do Ultramar no Estado Novo, de 1961 a 1963, e presidente do Centro Democrático e Social (CDS) em democracia, de 1986 a 1988.

Professor universitário com dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado, entre 1980 e 1995, e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

"A minha vida foi a escola, sobretudo. A intervenção política foi mais por obrigação cívica", afirmou Adriano Moreira, numa entrevista à agência Lusa, em 2012.

Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, em 06 de setembro de 1922, filho de António José Moreira, que foi subchefe da Polícia de Segurança Pública (PSP) no porto de Lisboa, e de Leopoldina do Céu Alves.

Em Lisboa, morou em Campolide, estudou no Liceu Passos Manuel e licenciou-se em Ciências Histórico-Jurídicas pela Faculdade de Direito de Lisboa, em 1944. Recém-formado, começou a exercer a advocacia e o seu envolvimento num processo contra o então ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, valeu-lhe uma detenção.

No Aljube, de onde foi libertado passados cerca de dois meses, conheceu Mário Soares: "Até então, só o conhecia de nome. Era um jovem que muita gente apreciava, porque tinha uma certa alegria e também porque era muito determinado e consistente para a idade. Mas defendíamos posições inteiramente contrárias", relatou, citado pela Visão, em 1995.

Entretanto, ingressou no corpo docente da antiga Escola Superior Colonial, que passaria a Instituto Superior de Estudos Ultramarinos - o atual ISCSP, pelo qual se doutorou, assim como pela Universidade Complutense de Madrid - e que, com a sua intervenção, seria integrado na Universidade Técnica de Lisboa.

A sua tese "O Problema Prisional do Ultramar", editada em 1954, foi premiada pela Academia das Ciências de Lisboa. Entre 1957 e 1959, Adriano Moreira fez parte da delegação portuguesa às Nações Unidas: "Aí pude ouvir pela primeira vez em liberdade as vozes dos povos que eram tratados como mudos ou como dispensáveis. E isso mais avivou a minha ideia de que tínhamos de transformar completamente o ensino".

António de Oliveira Salazar chamou-o então para o Governo, primeiro para subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960, e depois para ministro do Ultramar, em 1961. Estalavam as primeiras revoltas em Angola contra a colonização portuguesa.

Segundo o próprio Adriano Moreira, Salazar convidou-o para que pusesse em prática um conjunto de reformas de que falava nas suas aulas, mas posteriormente pediu-lhe para mudar de política e a sua resposta foi: "Vossa excelência acaba de mudar de ministro".

"Fui ministro de Salazar, mas fui o ministro que fui: revoguei o Estatuto do Indigenato e aboli as culturas obrigatórias nas colónias", disse ao Expresso, em 1983.

Quando deixou o Governo, em 1963, voltou ao ensino e casou-se em 1968 com Mónica Isabel Lima Mayer, com quem teve seis filhos, António, Mónica, Nuno, Isabel, João e Teresa. Foi presidente da Sociedade de Geografia.

Após o 25 de Abril de 1974, foi saneado das funções oficiais e esteve exilado no Brasil, onde foi professor na Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Em 1980, regressou à política ativa, como candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática (AD). Filiou-se no CDS, que acabaria por liderar, entre 1986 e 1988, e continuou deputado até 1995.

Em 2014, Adriano Moreira foi uma das 70 personalidades que defenderam a reestruturação da dívida pública como única saída para a crise.

 

Reações

Marcelo Rebelo de Sousa

“Os portugueses pela minha voz agradecem 100 anos de vida, 100 anos de obra, 100 anos de serviço a Portugal”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, numa declaração no Palácio de Belém, após a notícia da morte de Adriano Moreira.

O Presidente da República traçou um retrato da vida do antigo presidente do CDS, considerando que “durante 100 anos foi tudo ou quase tudo”.

“Académico, mestre de civis e militares, lutador pela liberdade e democracia, depois reformador impossível em ditadura, ainda assim, revogando o Estatuto do Indigenato. Exilado, regressado, presidente de um partido político, vice-presidente da Assembleia da República, Conselheiro de Estado”, elencou.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que Adriano Moreira “atravessou dois regimes, andou pelo mundo, deixando discípulos, defendendo a nossa língua, a nossa cultura, a nossa pátria comum, sempre com inteligência, com brilho, com tenacidade, com orgulho transmontano, com orgulho português”.

“Deixou-nos há duas horas Adriano Moreira. Em paz, sereno, na história, mas acima da história como sempre viveu”, disse.

 

Augusto Santos Silva

"Adriano Moreira ficará como uma grande figura da democracia portuguesa, que o soube reconhecer e integrar", escreveu Augusto Santos Silva na sua conta na rede social Twitter.

Depois de sublinhar que "foi a democracia que o fez deputado e líder partidário, e mestre de várias gerações", o presidente da Assembleia da República e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros concluir que Adriano Moreira, por sua vez, "ajudou a democracia a situar-se na continuidade histórica de Portugal".

 

Nota de Pesar pelo falecimento do Prof. Adriano Moreira do Município de Macedo de Cavaleiros

Foi com enorme pesar e consternação que o Município de Macedo de Cavaleiros tomou conhecimento do falecimento do ilustre macedense Adriano Moreira.

Nascido na aldeia de Grijó a 6 de setembro de 1922, o Prof. Adriano Moreira cedo se destacou enquanto estadista, político, professor universitário e figura de relevo na área das Relações Internacionais e de Educação. Foi ministro do Ultramar no Estado Novo (1961 a 1963) e presidente do Centro Democrático e Social (CDS) de 1986 a 1988.

Ao longo da sua vida, Adriano Moreira publicou dezenas de obras, foi deputado da Nação entre 1980 e 1995 e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

Sem nunca esquecer as raízes e a ligação à terra que o viu nascer, o professor Adriano Moreira dá nome à biblioteca de Grijó.

Nesta hora de dor e consternação, o Executivo de Macedo de Cavaleiros transmite à família os mais sentidos pêsames.

 

Nota de Pesar pelo falecimento do Prof. Adriano Moreira do Município de Bragança

O Professor Doutor Adriano José Alves Moreira foi um vulto incontornável da história contemporânea do nosso país e poder usufruir, até hoje, da sua presença e inteligência foi, para todos nós, um privilégio imenso.

O Professor Adriano Moreira nunca negou as suas raízes transmontanas e num desapego material incomum, doou, em 2009, o seu acervo bibliográfico, condecorações, diplomas e atribuições honoríficas, trajes académicos, objetos pessoais, entre outros, ao Município de Bragança, que o honrou, atribuindo ao Centro Cultural Municipal e à Biblioteca que acolheu o seu espólio, o seu nome e, mais recentemente, criou, em parceria com o Conselho de Curadores da Biblioteca Adriano Moreira, um prémio literário, também com o seu nome.

Partiu o homem, mas para a história continuará bem vivo o seu nome. Obrigado Professor Adriano Moreira!

 

Cavaco evoca "um dos mais importantes pensadores políticos do Portugal contemporâneo"

O antigo Presidente da República Cavaco Silva evocou Adriano Moreira como "um dos mais importantes pensadores políticos do Portugal contemporâneo", assinalando também o seu "legado de verdadeiro serviço público".

"No ensino construiu escola em torno da 'convergência dos saberes' e desses saberes produziu um manancial enorme de pensamento e reflexão sobre Portugal, tornando-o indiscutivelmente um dos mais importantes pensadores políticos do Portugal contemporâneo", escreveu Anibal Cavaco Silva numa declaração enviada à agência Lusa.

"Curvo-me perante a memória do Prof. Adriano Moreira. À sua família deixo uma palavra de profundas condolências", concluiu o antigo chefe de Estado.

 

Nuno Melo

Em declarações à agência Lusa a propósito da morte de Adriano Moreira, Nuno Melo manifestou “muita tristeza” por este desaparecimento, mas sublinhou “a consciência de se estar a falar de alguém que é não só uma referência maior do CDS como também uma personalidade fundamental do século XX e do início do século XXI” em Portugal.

“O professor Adriano Moreira teve uma longa vida, mas teve uma longa vida que felizmente nos deixa cheios de exemplos”, enalteceu.

Segundo o líder do CDS-PP, o antigo líder “marcou os lugares por onde passou” quer no Governo, na Assembleia da República, na Universidade ou no CDS.

“E por isso nós temos apenas não só de o recordar como principalmente de lhe saber seguir o exemplo”, enfatizou.

 

Luís Montenegro

“Adriano Moreira foi um ‘grand seigneur’ da academia e da política portuguesa. Deixa-nos um legado riquíssimo de pensamento sobre valores e princípios sociais”, escreveu Luis Montenegro, na sua conta da rede social Twitter.

O presidente do PSD deixa ainda o “profundo pesar e solidariedade” à família de Adriano Moreira e ao CDS-PP, partido do qual foi presidente.

 

Assunção Cristas

“O Professor Adriano Moreira deixa um testemunho de vida dificilmente igualável. É o pesar que agora nos une, mas também o sentimento de inspiração e algum sentido de gratidão por uma vida longa, dedicada à causa pública”, enalteceu Assunção Cristas numa publicação na rede social Twitter.

A antiga líder do CDS-PP recordou “a enorme coerência do Professor Adriano Moreira” e “os 100 anos vividos com uma grande fidelidade aos princípios em que acreditava e que sempre defendeu”.

 

Manuel Monteiro. "Adriano Moreira tentou deixar uma marca"

O ex-presidente do CDS Manuel Monteiro destaca que Adriano Moreira procurou deixar uma marca na política. Transformou-se numa figura consensual, mas nem sempre foi assim - mesmo dentro do partido.

 

Rio homenageia “integridade, conhecimento e valia intelectual”

O antigo presidente do PSD Rui Rio prestou homenagem a Adriano Moreira, que morreu hoje aos 100 anos, elogiando a “integridade, conhecimento e valia intelectual”.

“A minha homenagem a Adriano Moreira, cuja integridade, conhecimento e valia intelectual sempre me impressionaram”, afirmou Rui Rio no Twitter.

O antigo líder do PSD recorda que foi contemporâneo de Adriano Moreira na Assembleia da República e,“mesmo havendo nessa altura personalidades de elevada qualidade e respeitabilidade” no parlamento, o antigo presidente do CDS-PP “sempre se distinguiu”.

 

Presidente do parlamento da Madeira diz que país perdeu "brilhante senador"

O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira afirmou hoje que com a morte de Adriano Moreira o país perdeu um dos seus “brilhantes senadores”, que dedicou a vida à “missão de serviço a Portugal”.

“Portugal perde um dos seus mais brilhantes senadores e um político que sempre procurou engrandecer a nação”, refere José Manuel Rodrigues numa mensagem de pesar pela morte do antigo presidente do CDS-PP.

 

Chega vai apresentar voto de pesar na Assembleia da República

O presidente do Chega, André Ventura, anunciou que vai apresentar na Assembleia da República um voto de pesar pela morte de Adriano Moreira, que considerou ser “um verdadeiro senador” da política portuguesa e um “pensador incomparável”.

“A morte do Professor Adriano Moreira deixa-nos a todos mais pobres. Um verdadeiro senador da política portuguesa e um pensador incomparável. Esteve dos vários lados da barricada e a todos enriqueceu tanto. Vamos apresentar no Parlamento um voto de pesar”, escreveu André Ventura na sua página pessoal da rede social Twitter.

 

 


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