A aldeia de Palaçoulo, no concelho de Miranda do Douro, foi a escolhida para a construção de um mosteiro de monjas que promete criar uma nova rota turística e dar centralidade ao Nordeste Transmontano.
Trata-se do primeiro mosteiro em Portugal da ordem religiosa "Trapista", cujo nome resulta da cidade onde foi fundada (Trappe, em França), e que é conhecida mundialmente pelos produtos confecionados pelos monges e monjas, entre os quais a cerveja com o mesmo nome.
O investimento, estimado em seis milhões de euros, será suportado integralmente pela Ordem formalmente designada "Cisterciense da Estrita Observância", com o início da obra previsto para 2018 e a expectativa de que um ano depois cheguem a Portugal as primeiras dez monjas, a maioria italianas.
O projeto foi hoje apresentado, em Bragança, com a presença dos diferentes intervenientes, entre eles o presidente da Câmara de Miranda do Douro, Artur Nunes, e o representante da equipa de projetistas, ambos com o desafio de encontrarem os regulamentos adaptados a uma obra invulgar em Portugal: a construção de um mosteiro.
"O país não está preparado para implementar, do ponto de vista regulamentar, um mosteiro", observou o autarca de Miranda do Douro, indicando que está em conversações com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) para encontrar o enquadramento legal.
As diligências do município resultam do Pedido de Informação Prévia feita pela equipa de projetistas, como confirmou ao arquiteto Pedro Salinas Calado, que apresentou o esboço do edifício, ladeado por terreno para trabalhos agrícolas, com um volumetria de cinco mil metros quadrados, que incluem áreas de oração e trabalho para 40 monjas e uma hospedaria para receber visitantes com lotação para 30 pessoas.
O presidente da Câmara de Miranda do Douro explicou que não está previsto financiamento municipal ou de fundos comunitários e que o apoio que a autarquia virá a dar será ao nível de infraestruturas como rede de água, saneamento e caminhos.
A questão material não preocupa a madre da Ordem religiosa, Rosaria Spreafico, que adiantou ter disponível "um certo capital para poder iniciar esta obra" e que para "o muitíssimo" que ainda falta conta com o apoio das centenas de mosteiros que existem em todo o mundo.
Os monges e monjas destes mosteiros localizados em locais ermos, como explicaram, vivem num regime de total reclusão, dedicados a orar e trabalhar. São autossuficientes e produzem tudo o que necessitam e que também vendem, desde compotas a artesanato, o que cria dinâmica em torno dos mosteiros.
É esta dinâmica que o bispo da Diocese de Bragança-Miranda, José Cordeiro, espera venha a acontecer em Palaçoulo, com a construção de um mosteiro beneditino, 472 anos depois de ter encerrado o único que existia na diocese, em Castro de Avelãs, Bragança).
Com a ajuda do pároco local, António Pires, "foi possível encontrar o grande milagre de 25 famílias poderem colaborar para criar o terreno que será o futuro mosteiro", no lugar onde foi a antiga aldeia de Palaçoulo, a cerca de dois quilómetros e meio da atual.
A diocese realça "a importância espiritual" desta obra, mas também "a cultural" e "o contributo" que pode ser dado "para o desenvolvimento do interior, dar centralidade ao interior"
"Dará centralidade com o aumento de pessoas que vêm visitar a nossa região atraídos pela espiritualidade, fará aumentar o turismo, as irmãs terão capacidade apenas para acolher 40 pessoas, mas o fluxo de visitantes será muito grande e isso permitirá, ali à volta do mosteiro e na própria comunidade de Palaçoulo e em Miranda do Douro, fazer com que haja uma outra rota de turismo a oferecer a quem nos visita", concretizou.
A expectativa resulta "do testemunho e da experiência de tantos mosteiros que existem no mundo inteiro" e que têm dado "um enorme contributo também ao desenvolvimento integral da região onde estão implantados".
Foto: Diocese de Bragança-Miranda