A primeira Mostra da Uva do Douro (MUD), que decorre entre 21 e 23 de junho em Sabrosa, quer simplificar e agilizar a comercialização na região demarcada, onde viticultores sentiram dificuldades de escoamento de uva na vindima de 2023.
“O que se pretende é simplificar e agilizar os processos de compra e venda de uva, e por isso é que é inédito”, afirmou hoje à agência Lusa Rui Soares, presidente da Associação dos Viticultores Profissionais do Douro (Prodouro).
A mostra, que ao invés de vinho quer transacionar uva, vai juntar viticultores e compradores da Região Demarcada do Douro.
“É um local onde as pessoas se conhecem, discutem, trocam informações e é feito numa fase ainda antecipada, em junho, para dar tempo para, até à vindima, poderem visitar as vinhas, verem as uvas e poderem fechar negócio posteriormente”, explicou Rui Soares.
Na Região Demarcada do Douro há produtores que se queixam da desvalorização do preço da uva e de dificuldades de venda deste fruto.
A última vindima ficou marcada por alguma agitação social porque, invocando dificuldades na venda de vinho e excesso de ‘stocks’, empresas e operadores não compraram ou compraram uvas em menos quantidade aos produtores, que, por sua vez, se queixaram de entregar as uvas a "preços muito reduzidos", um problema que se teme que se intensifique em 2024.
“Foi o grande mote que nos levou a criar este evento”, salientou o dirigente.
A ideia para a mostra, explicou, partiu de uma quinta associada da Prodouro que sentiu, precisamente, dificuldades de escoar a totalidade da sua produção de uva em 2023.
Na MUD, os produtores de uva vão encontrar um espaço de divulgação das suas produções, como as castas de uva que produzem ou o local onde estão localizados, e, por exemplo, os potenciais compradores têm oportunidade de conversar com os viticultores, ver o tipo de uva que necessitam de comprar para um determinado produto ou algo que querem desenvolver na sua gama e, para a qual, não têm disponibilidade de matéria-prima.
“Queremos organizar um fórum onde as pessoas se conheçam, encontrem e a partir daí os processos de transação possam ver facilitados. No contexto atual, tudo aquilo que se possa fazer para ajudar esse negócio de compra e de venda de uva acho que é bem-vindo”, sublinhou Rui Soares.
Contexto em que alguns produtores já receberam cartas de empresas a informar que, nesta vindima, não vão comprar uvas, alegando excesso de ‘stock’.
Rui Soares referiu que, para já, se trata de casos concretos e não de uma situação generalizada no Douro.
“Mais do que o número é um sinal que nós temos, porque se, numa fase destas em que a campanha ainda vai no meio, os viticultores já começam a receber estas cartas, deixa antever que na vindima os problemas podem ser ainda maiores”, afirmou.
O objetivo da Prodouro é, concretizou, contribuir para minimizar os problemas sentidos na vindima de 2023, que classificou de “demasiado graves” para que se voltem a repetir em 2024.
Durante os três dias de mostra realizam-se palestras, formações e informações de apoio nas várias vertentes do negócio, nomeadamente na aprendizagem de desdobramento da autorização de produção (AP) para vários clientes, o custo de produção, o orçamento financeiro, a divulgação e a apresentação de novos produtos para o tratamento da vinha, entre outros temas.
O evento é dirigido a todos os viticultores que se dedicam exclusivamente à produção de uva registados no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).
A mostra é apresentada pela Prodouro como uma “iniciativa inédita na Europa” e conta com o apoio da Câmara de Sabrosa, no distrito de Vila Real.
A Associação sem fins lucrativos, criada em 2015, conta atualmente com 103 associados e representa 1.197 viticultores independentes, produtores-engarrafadores e adegas cooperativas, abrangendo 5.139 hectares de vinha.