Em Julho do ano passado, o Motoclube \"Os Valpacences\", entidade legalizada há cerca de um ano, iniciou a construção da pista de motocross do concelho em terrenos cedidos pela Câmara Municipal de Valpaços, de quem recebeu também ajuda para construção da pista. A pista de motocross veio a nascer junto aos terrenos ocupados, também por cedência da autarquia, pelo campo de tiro do Clube de Tiro, Caça e Pesca de Valpaços.

Na altura, e como o campo de tiro já estava instalado no local há cerca de sete anos, \"o motoclube procurou junto do clube de tiro proceder a uma divisão do terreno, por forma a não afectar o desenvolvimento das actividades dos dois clubes\", garante Fernando Marto, presidente do Motoclube \"Os Valpacences\". Depois disto, continua Fernando Marto, \"o clube de tiro procedeu à vedação da sua parte do terreno, dentro da área que tinha ficado acordada\".

E tudo parecia ter ficado resolvido, tanto mais que a construção da pista de motocross exigia alguma celeridade, por forma a ficar concluída a tempo de receber uma prova do nacional de motocross, que ali se realizaria no mês de Setembro. As obras foram con-cluídas, a prova realizou-se e constituiu-se como um enorme êxito desportivo, tendo atraído cerca de cinco mil pessoas ao local. As condições da pista agradaram à Federação Nacional de Motociclismo (FNM) que manifestou de imediato a sua intenção de este ano voltar a incluir Valpaços no calendário das provas nacionais, agendando para o local uma prova do campeonato nacional de motocross sub21 e infantis (a disputar no dia 7 de Setembro) e uma outra extra-campeonato, a realizar durante o mês de Março ou Abril.

Mas, aquela que parecia ser uma relação de convivência pacífica entre o motoclube e o clube de tiro conheceu desenvolvimentos contrários no passado sábado, altura em que elementos da direcção do clube de tiro levaram para o terreno uma retroescavadora, retiraram a vedação existente e \"arrancaram\" parcialmente a grelha de partida que serve para o arranque das provas de motocross, para colocar nova vedação, sem disso darem qualquer conhecimento ao motoclube.

Indignado com a situação, o presidente do motoclube classifica-a como \"um verdadeiro acto de vandalismo\" e garante ter já dado entrada a uma acção no tribunal para responsabilizar civilmente os elementos da direcção do clube de tiro. Fernando Marto garante que os prejuízos \"ascendem a cinco mil euros, pois só a grelha de partida custou 2.500 euros\". Para além disso, o presidente do motoclube teme não existirem condições para a realização das provas já agendadas, facto que poderá levar a Federação a multar o motoclube (a multa pode chegar aos 1.500 euros) e a impedi-lo de organizar provas de motocross nos próximos anos.

Fernando Marto diz não entender o que levou o clube de tiro a tomar esta atitude, garantindo que \"não há questões pessoais por trás disto\" e sublinhando que ele próprio é sócio do clube de tiro.

\"História

mal contada\"

Abordado pelo Semanário TRANSMONTANO, Luís Cardoso, presidente do Clube de Tiro, Caça e Pesca de Valpaços, garante que \"a história está mal contada\" e alega direitos sobre o terreno em causa para justificar a atitude tomada pelo seu clube. Luís Cardoso confirma que o terreno pertence à Câmara Municipal, mas adianta que \"o clube de tiro tem um contrato de cedência daquele espaço pelo período de 50 anos\".

O presidente do clube de tiro refere ainda que, \"quando foi construída a pista de motocross, a pedido expresso do engenheiro que supervisionou a obra, concordámos que o espaço de terreno em causa fosse utilizado temporariamente para a construção da grelha de partida, uma vez que não tinham outro espaço para a colocar. Mas, só concordámos dada a proximidade da realização do evento e com a condição de que seria apenas para esta prova, no final da qual teriam que retirar a grelha\".

Luís Cardoso sublinha ainda que \"o local onde está construída a grelha de partida é o único por onde podemos aceder ao campo de tiro, o que significa que, a estar ali a grelha, o campo de tiro ficaria sem entrada alguma\". E, o presidente do clube de tiro refere que, inclusive, \"tínhamos programado realizar uma reunião entre os dois clubes, reunião essa que, por falta de vontade por parte do motoclube, nunca se realizou\". Ao mesmo tempo, Luís Cardoso adianta que, \"há uns meses atrás demos conhecimento a um membro do motoclube que íamos fechar o terreno. Agora, limitámo-nos a vedar aquilo que é nosso e sentimo-nos apenas na obrigação de avisar a Câmara, uma vez que os terrenos lhe pertencem\".

\"Não há marcos\"

Francisco Tavares, presidente da Câmara de Valpaços, mostrou-se \"surpreendido\" quando contactado pelo Semanário TRANSMONTANO, confessando não ter (ainda) conhecimento da situação e garantindo, ao mesmo tempo, não ter sido avisado em relação à atitude tomada pelo clube de tiro. \"Lamento profundamente este tipo de procedimentos, mas é claro que a Câmara vai tentar ter um papel de mediadora nesta situação, porque se trata de duas associações que devem coexistir e têm um papel importante na organização de eventos desportivos no concelho\", sublinha.

Ao mesmo tempo, Francisco Tavares garante que, no terreno em causa, \"não há marcos definidos\" e diz desconhecer, inclusive, o facto de o clube de tiro ter vedado a \"sua\" área. No que toca à concessão do terreno ao clube de tiro, Tavares sublinha que esta só aconteceu porque \"foi para o clube ter área suficiente para se poder candidatar a determinados subsídios\", não vendo que isso lhe garanta \"direitos sobre o terreno em causa\".

O autarca, que quando contactado se encontrava fora do concelho, prometeu reunir as duas partes, ainda esta semana, por forma a encontrar as soluções mais adequadas à situação.



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