Mulheres e homens de Vila Real cumprem hoje a tradição de dar o pito, um doce típico de massa e abóbora que é vendido durante todo o ano, mas que ganha destaque nesta altura.

Apesar de ser segunda-feira, dia de trabalho e de a pandemia ainda causar preocupação, foram muitos os que subiram ao recinto da capela de Santa Luzia, na localidade de Vila Nova, numa das entradas da cidade de Vila Real.

Lá em cima, algumas mulheres ocupam ‘stands’ com bancadas recheadas de pitos, o doce típico que protagoniza uma tradição popular que se repete todos os anos: a rapariga oferece o pito ao rapaz que, em fevereiro, retribui com a gancha.

Enquanto decorria a missa dentro da pequena capela, o casal Julieta e Mário Oliveira, de 74 e 75 anos, passaram pelos ‘stands’ para comprar pitos.

À agência Lusa contaram que fazem questão de cumprir a tradição, que consideram que “é engraçada”. Vieram da aldeia próxima de Carrazedo, em Ermida, e devia ser Julieta a comprar para oferecer a Mário, mas foi ele que pagou.

Agora, referiram, os doces são para dar também aos filhos, à nora e ao neto.

Susana Teixeira quis replicar a massa do pito de antigamente que guardava na memória de menina.

“Gostava de pitos e gostava muito de uns pitos que comia quando era criança e, por isso, comecei a tentar inventar, criar, tanto que esta massa é criação minha”, contou a produtora.

Já faz o doce ao longo de todo o ano e à Lusa disse que é um “extra” para o orçamento familiar.

Os dias que antecederam o 13 de dezembro foram de muito trabalho em casa de Susana Teixeira. Com a ajuda da mãe, irmã e dos filhos fez cerca de mil pitos e as vendas, apontou, estão a "correr bem".

“Foi trabalhar dia e noite”, frisou.

Questionada sobre quem são os seus clientes, Susana disse que os “mais velhos compram para manter a tradição” e que os “mais novos estão a comprar mais pela brincadeira de oferecer o pito”.

“E ainda bem, porque assim não se vai deixar morrer a tradição”, frisou.

Uma tradição que começou por ser religiosa e acabou, com o passar do tempo, por ter um cariz popular.

“Mais um ano, mais uma luta, mesmo com o vírus (novo coronavírus) a tradição não morreu. Já vendi mais de mil pitos e a cada ano estou a conseguir fazer mais, mas mesmo assim não chegam para as encomendas”, afirmou Maria José Seixas.

Cozinheira de profissão, por estes dias tira uns dias de férias para se dedicar à confeção do doce típico que representa um “dinheiro extra”.

Colhe a abóbora na sua horta para que o produto “seja o mais fresco possível”.

Aprendeu a receita com as mulheres mais velhas e já há mais de 20 anos que vende, recebendo muitas encomendas nos dias que antecedem 13 de dezembro e que vende no próprio dia, no recinto da capela.

“Faço questão de vir sempre aqui neste dia”, salientou.

Manuel Alves comprou uma dúzia de pitos para oferecer aos filhos, netos e aos sogros que já têm 87 e 92 anos.

“São eles que vão avaliar a qualidade do pito porque já conhecem melhor a tradição do que eu”, referiu.

Depois de 30 anos emigrado no Luxemburgo, Manuel Alves regressou a Vila Real há três e disse que tem aproveitado para reavivar as memórias da juventude.

O casal de septuagenários e Maria Elisa Teixeira e Joaquim une esforços lá e casa para fazer os doces típicos que hoje estão a vender em Vila Nova.

“Há para aí 50 anos que venho aqui neste dia. Tenho tido muitos clientes só que, agora, estamos no tempo da pandemia e abrandou um bocadinho”, referiu Maria Elisa.



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