Municípios e empresa intermunicipal dos distritos de Bragança e Vila Real, clientes do laboratório transmontano suspeito de fraude ouvidos hoje pela agência Lusa, garantiram a qualidade de água para consumo nos seus territórios.
Em novembro, o Laboratório Regional de Trás-os-Montes (LRTM), em Mirandela, suspendeu a atividade por tempo indeterminado, por ser suspeito na operação Gota d´Água da Polícia Judiciária (PJ) que está a investigar a falsificação de análises de água para consumo humano.
Na sua edição de hoje, o jornal Correio da Manhã conta que “a forma como o Laboratório de Trás-os-Montes ‘martelava’, na sua própria linguagem, o resultado das águas de consumo e residuais, pôs em risco, durante anos, a saúde pública, não apenas da região transmontana, mas de muitas outras zonas do país”.
Rui Vilarinho, representante dos municípios do distrito de Bragança, clientes do laboratório, e vice-presidente da câmara municipal de Macedo de Cavaleiros, adiantou que estas autarquias já contratualizaram outra entidade para fazer as análises exigidas, em alguns casos semanalmente.
“Porque há uma necessidade premente e uma exigência da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR)”, declarou Rui Vilarinho, acrescentando que a maioria dos municípios optou por um laboratório de Chaves.
Quantos aos resultados mais recentes das análises, Rui Vilarinho disse que, de acordo do conhecimento que tem na região, “há situações pontuais que têm que ser corrigidas, como já acontecia no passado e no país inteiro”.
“Mas a água que é consumida em Macedo de Cavaleiros e, acredito, em todos os concelhos do distrito de Bragança, é de qualidade”, afirmou.
Também o autarca de Alfândega da Fé, Eduardo Tavares, quis deixar uma “garantia total de segurança e de tranquilidade junto da população”.
“Logo na semana a seguir [às buscas da PJ], e quando tivemos conhecimento de que a certificação ia cair, o município contratou com caráter urgente um laboratório para fazer as análises necessárias em seis aldeias, que eram as localidades abrangidas pelo Laboratório Regional de Trás-os-Montes”, contou.
O presidente esclareceu que “95% da água é fornecida pelo abastecimento em alta das Águas do Norte, que não estão neste processo”, e explicou que, no caso de Alfândega da Fé, o processo estará ligado às análises às águas residuais e não às de consumo humano.
A Câmara de Mirandela disse que também tem cumprido a realização regulamentada das análises à água e remeteu mais informações para um comunicado a emitir.
Ainda no distrito de Bragança, a Lusa tentou contactar o autarca de Vila Flor, mas sem sucesso.
Já no distrito de Vila Real , o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar assinalou: “de imediato, pela insegurança da notícia, mandámos fazer a uma outra entidade análises a todos os sistemas e não tínhamos inconformidades que levassem a corte de fornecimento ou a uma questão relevante de saúde pública”.
Alberto Machado explicou que o município trabalhou com o laboratório visado na investigação num período de transição, entre agosto e novembro, e que foi, entretanto, adjudicada a uma outra empresa credenciada, após concurso público, a realização de todas as análises feitas à água naquele concelho.
Também Carlos Silva, da empresa Águas do Interior Norte (AdIN), disse que está a preparar o lançamento de um concurso público para adjudicar a uma só empresa a realização das análises, que eram realizadas por três empresas, uma delas o laboratório alvo de investigação.
Acrescentou que, após ser revelada a operação Gota d´Água, a AdIN procurou de imediato avaliar se as situações que estavam a ser reportadas pelo laboratório tinham veracidade.
“Verificámos que não tínhamos qualquer indício, qualquer situação que justificasse alguma suspeita acrescida”, apontou.
A AdIN gere os serviços de abastecimento de água e de drenagem de águas residuais dos municípios de Freixo de Espada à Cinta, Mesão Frio, Murça, Peso da Régua, Sabrosa, Santa Marta de Penaguião, Torre de Moncorvo e Vila Real, onde residem cerca de 100 mil habitantes.
No âmbito da operação Gota d'Água, a Polícia Judiciária deteve 20 pessoas - mas o processo ficou depois com 19 arguidos detidos - e realizou 60 buscas a entidades públicas e privadas.
No âmbito deste processo, que colocou em prisão domiciliária a diretora do laboratório em causa, a ERSAR suspendeu a entrega do “selo da qualidade exemplar de água para consumo humano” de 2023 a oito fornecedores, de acordo com o jornal Público.