A Cooperativa Agrícola dos Olivicultores de Murça quer “colocar definitivamente” em funcionamento o projeto Biocombus, um "processo inovador" de tratamento de resíduos dos lagares de azeite com pó de cortiça para produção de biomassa.
A problemática do bagaço de azeitona, resultante do processo de extração de azeite, entrou na ordem do dia nesta campanha, porque as indústrias extratoras decidiram transmitir para os lagares os custos associados ao transporte e tratamento deste resíduo.
“Nós temos uma solução que pode ser suficiente para nós e pode ser replicada no resto do país”, afirmou hoje à agência Lusa Francisco Vilela, presidente da direção da Cooperativa dos Olivicultores de Murça.
O responsável referiu-se ao projeto Biocombus, desenvolvido há vários anos por um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em conjunto com a cooperativa de Murça.
“Achamos que esta pode ser uma solução para o mercado, em vez de só a extração do bagaço”, frisou.
O Biocombus, desenvolvido pelo investigador João Claro, propõe-se resolver dois problemas em simultâneo, os resíduos e efluentes resultantes dos setores oleícola e da cortiça, juntando-os e transformando-os em biomassa, que poderá ser utilizada como combustível sólido para caldeiras domésticas.
Francisco Vilela explicou que o projeto já funcionou, só que se verificou um problema a nível do secador utilizado para o bagaço húmido, pois “não era eficiente em termos energéticos”.
“Está testado e é eficiente em termos de poder calorífico (…) Temos tido algumas dificuldades em as empresas metalúrgicas olharem para isto. A última delas aderiu ao projeto e depois resolveu ir para o Chile e deixou o secador a meio”, lamentou.
O projeto está patenteado e já possui máquinas à escala industrial, faltando “apenas o secador eficiente”.
Agora, a Cooperativa quer concluir esta iniciativa e, segundo o responsável, houve uma abertura por parte do Ministério do Ambiente para acesso, a partir de março, ao Fundo Ambiental.
Francisco Vilela referiu que, com o aumento da produção de azeite, aumenta consequentemente a produção de bagaço, deixando também as indústrias extratoras com dificuldades em dar resposta.
Lembrou ainda que os lagares foram obrigados a modernizar-se para responder às exigências ambientais, enquanto, na sua opinião, essas extratoras “pararam no tempo”.
Este ano, com a decisão tomada por essas empresas, aquilo que era uma receita passou a ser uma despesa para os lagares privados e cooperativas, o que veio agravar as dificuldades já sentidas pelo setor devido à quebra do preço do azeite e, consequentemente, da azeitona.
A Cooperativa dos Olivicultores de Murça possui um tanque de retenção de bagaço, que “adia o problema” e ajuda a “poupar no transporte”.
Mesmo assim, segundo o dirigente, aquilo que representava uma “receita de 4.000 euros” vai transformar-se numa “despesa de quase 60.000 euros”, que serão assumidos pela cooperativa.
Para tentar resolver o problema, foi criada uma Associação de Lagares que junta cooperativas e privados. A Cooperativa de Murça integra a comissão instaladora.