O professor catedrático António Mateus, defendeu, em entrevista à Lusa, que “não há razão para temer” a exploração de lítio em Portugal, se forem asseguradas a competência e capacidade técnica, bem como a idoneidade da empresa que a fizer.
“Se uma empresa como a Savannah pretende efetivamente investir [na exploração mineira de lítio em Portugal], acho que não há razão nenhuma para temer, desde que sejam, efetivamente, salvaguardadas todas as outras dimensões do problema”, afirmou o professor catedrático no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
Para António Mateus, os organismos que tutelam as concessões devem assegurar que a empresa tem competência e capacidade técnica para o efeito.
“As empresas têm de ter a idoneidade comprovada para o efeito, têm que ter competência técnico-científica e tem de haver um quadro regulamentar exigente”, defendeu.
Admitindo que a indústria mineira é vista como uma atividade “necessariamente suja” e “perigosa”, António Mateus lembrou que os processos e tecnologias utilizadas não são os mesmos de há 50 anos.
“Claro que há empresas que prevaricam, mas isso não é exclusivo da indústria mineira, portanto, não avaliemos a 'performance' e o desempenho da indústria como um todo, pelo fato de haver um ou dois agentes a prevaricar aqui ou acolá”, considerou o professor catedrático.
“Se as coisas forem feitas com o devido cuidado - uma vez mais isto é muito, muito importante – […] Se todos cumprirem a sua parte do processo, se houver uma corresponsabilização no processo, estou perfeitamente convencido de que é viável, com a vantagem de podermos subir na cadeia de valor”, acrescentou.
Assim, o especialista na área da mineralogia, geoquímica e metalogenia vê com bons olhos os planos do Governo para que haja continuidade no processo da exploração de lítio, isto é, que não se fique pela exploração, instalando também em Portugal unidades de refinaria daquele metal.
“O valor investido é brutal e, portanto, há condições para aplicar boas tecnologias, assim o recurso esteja devidamente caracterizado, assim haja um plano de lavra - é assim que nos chamamos na linguagem técnica - um plano de exploração que seja sustentável”, reiterou.
Quanto à oposição que os planos para a exploração mineira de lítio em Portugal têm recebido por parte das localizações das áreas com potencial identificado e de grupos ambientalistas, o especialista considerou que “as pessoas vivem debaixo de um discurso de medo, que provoca terror”.
“Hoje em dia as pessoas preocupam-se com coisas que têm toda a legitimidade para se preocupar, mas nós não podemos tomar uma decisão sem termos a informação necessária para o efeito”, afirmou.
Sublinhando que a indústria mineira tem vantagens e desvantagens, António Mateus considera necessário ponderação e “assegurar que as componentes menos positivas sejam cada vez menores, para valorizar as componentes mais positivas”.
“Eu não quero ter exploração mineira em tudo quanto é sítio, mas gostaria de ter em Portugal, por termos condições para o efeito, mais três ou quatro explorações e, sobretudo, a capacidade de crescer na cadeia de valor”, acrescentou.
No entanto, o professor diz ver cada vez mais ingerências por parte de associações, “que até inventam”.
“Até a febre tifoide a exploração do lítio na Argemela iria provocar, que é uma coisa perfeitamente absurda”, disse.
Segundo a proposta de Orçamento de Estado, o Governo quer criar em 2020 um ‘cluster’ do lítio e da indústria das baterias e vai lançar um concurso público para atribuição de direitos de prospeção de lítio e minerais associados em nove zonas do país.
Devem ser abrangidas as áreas de Serra d’Arga, Barro/Alvão, Seixo/Vieira, Almendra, Barca Dalva/Canhão, Argemela, Guarda, Segura e Maçoeira.
O movimento cívico SOS Serra d'Arga, em Viana do Castelo, e diversas associações culturais e de defesa do ambiente da Galiza participam hoje numa caminhada para contestar a eventual exploração de lítio naquele território.
Em declarações à agência Lusa, Ludovina Sousa, em representação do Movimento SOS Serra d' Arga, disse tratar-se da "primeira iniciativa conjunta com associações e coletividades galegas e que visa dar a conhecer ‘in loco' o território e património natural e construído que poderá vir a ser afetado por uma exploração mineira".
No dia 15 de agosto, cerca de 150 pessoas juntaram-se em Morgade, no concelho de Montalegre, numa vigília para alertar contra a mina de lítio a céu aberto prevista para aquele concelho, plantando árvores perto dos furos das prospeções já realizados.
No mesmo dia, a Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso promoveu uma caminhada intitulada ‘Não à Mina, sim à Vida’, no concelho de Boticas, no distrito de Vila Real, pela, contra a destruição da floresta e a falta de regulamentação na indústria mineira.