O sector do azeite em Trás-os-Montes enfrenta uma crise sem precedentes. Os produtores queixam-se de que o negócio não compensa porque o produto é vendido ao desbarato. Há agricultores a deixar a azeitona no olival.
Está à venda o lagar da empresa Casa Rabaçal-Aragão, em Alfândega da Fé, uma das referências da região no sector e um dos primeiros produtores a comercializar a produção engarrafada e com rotulagem. Os motivos da venda prendem-se com questões pessoais dos proprietários, mas também com o facto de o negócio do azeite \"já não ser lucrativo\", referiu, ao JN, Maria do Carmo Aragão, a proprietária.
O preço do azeite \"está tão baixo como nunca esteve\", confirma António Branco, presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD). Circunstâncias que estão a desmotivar os produtores, que se queixam de não conseguir fazer face às despesas, nomeadamente o custo da mão-de-obra, que aumentou cinco euros, a jorna diária é paga actualmente a 30 euros às mulheres e 35 euros aos homens.
A mecanização da apanha é incipiente, apenas casos pontuais recorrem a máquinas, também porque os terrenos não o permitem. As despesas de produção também aumentaram. O preço do adubo, por exemplo, custa agora o dobro.
Mas o principal factor é a concorrência. De Itália, mas principalmente de Espanha, a que nivela o preço na região. A azeitona está a ser comercializada a 25 cêntimos o quilo, quando no ano passado foi vendida a 40 cêntimos, e o litro de azeite é vendido a dois euros, menos 50 cêntimos que no ano passado
Este ano até há azeitona em quantidade, apesar de ter baixo calibre, todavia \"já não compensa a apanha, porque o azeite está barato, tem o mesmo preço que há 15 anos\", lamentou Francisco Henriques, um produtor de Vila Nova de Foz CÎa.
Jorge Encarnação, um produtor de Felgar (Torre de Moncorvo) gastou esta campanha mais de dois mil euros para apanhar sete toneladas de azeitona. \"Oito quilos de azeitona podem render um litro de azeite, porque é preciso pagar a maquia ao lagar\", calcula Francisco Henriques. Um número que assusta o produtor de Felgar, que prontamente desabafa: \"Tem que render mais senão estou desgraçado, isto dá muita despesa, só se fosse com máquinas\".
Na região já há muitos produtores que \"deixam a azeitona por lá (no campo), não vale a pena andar com tanto trabalho\", frisou Jorge Encarnação. Também Francisco Henriques considera que é um negócio que não rende, \"ainda se vai apanhando a azeitona porque é azeite de casa, e não se liga ao preço\", referiu.