O que falhou até agora no processo de desenvolvimento do Vale do Douro? Terá sido uma lacuna de descentralização política? Ou haverá outros problemas, mesmo intrínsecos? Procuram-se respostas para estas questões.
Muitas opiniões já foram emitidas, muitos estudos e planos apresentados, mas a região continua a ser uma das menos desenvolvidas da Europa. O debate sobe, hoje, ao Salão Árabe do Palácio da Bolsa, no Porto. A iniciativa é da Associação Comercial do Porto (ACP), e conta com a participação de várias personalidades, como Miguel Cadilhe, Arlindo Cunha e Ricardo Magalhães, entre outros.
A eventual falha na descentralização política é a questão central do debate. As opiniões recolhidas pelo JN indicam que sim, que houve essa falha. O presidente da ACP, Rui Moreira, não tem dúvidas \"Todas as iniciativas que tem havido são desgarradas, vistas a partir de Lisboa\". Exemplifica com o planeamento que \"tem obedecido a uma directriz central que desconhece, por vezes, o que as regiões têm para oferecer\".
Defensor da regionalização, o presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, Aires Ferreira, nota que \"se há zona do país que é prejudicada pelo actual modelo administrativo é o Douro\". \"Acabem com a figura dos distritos, que é uma aberração\", atira. Entende ser \"mais que óbvio\" que a criação de regiões teria ajudado a desenvolvê-lo. Na mesma linha de pensamento situa-se o autarca de Lamego, Francisco Lopes, para quem \"a excessiva centralização do país afecta todo o interior\", sobretudo as regiões com \"menor capacidade reivindicativa de políticas de discriminação positiva\". No entanto, acrescenta que, actualmente, \"tal como o Douro, todo o Norte do país e o Porto são vítimas do aumento das assimetrias regionais\".
Problemas estruturais
Mas para o edil social-democrata de Lamego, a falta de desenvolvimento da região não se esgota na falha de descentralização política, embora seja a mais significativa. Os problemas são estruturais, de sempre, fragilidades que a têm impedido de se desenvolver \"A falta de massa crítica e de lideranças\". O presidente da Câmara de Sabrosa, José Marques, assenta os problemas do Douro numa \"complexidade que começa nos próprios durienses e acaba nas responsabilidades do Governo\". Defende, por isso, a criação de um \"lóbi político\" dentro da região, que permita delinear \"estratégias conjuntas\".
Rui Moreira lamenta que o Projecto de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro apresentado com pompa e circunstância, em 2004, pelo então primeiro-ministro Durão Barroso, não tivesse avançado. Confia que as novas directrizes do governo socialista possam resolver alguma coisa, bem como as \"meritórias\" iniciativas do sector privado que começam a afirmar a região como um destino turístico, \"que ainda não o é por falta de integração\".
No Palácio da Bolsa, hoje, a partir das 10 horas, vão ser discutidas as oportunidades que o Douro oferece e serão apontadas responsabilidades pelo sucessivo adiamento do seu desenvolvimento. Está prevista a apresentação de algumas iniciativas em execução e outras bem sucedidas. Os olhos estarão postos no futuro, pois Rui Moreira avisa que o novo quadro de apoios comunitários poderá ser a \"última oportunidade\". \"Temos de agarrar o que resta!\", desafia.