Têm estudos superiores e na maior parte dos casos empregos estáveis. Mesmo assim optam por partir. As razões são as mais diversas. Melhores salários, melhores ambientes de trabalho e mais oportunidades de realização profissional.
A abertura de fronteiras na Europa, o conhecimento de línguas, a possibilidade de contacto regular com as famílias devido à internet e ao encurtamento de distâncias através de melhores transportes, facilitam a partida. A única coisa que lamentam é a falta de sol, do convívio e da comida portuguesa.
A enfermeira Inês Marmelo trabalhava há seis anos no serviço de neonatologia do Hospital Distrital de Santarém quando decidiu emigrar. Londres foi o destino escolhido. O facto dos pais e os irmãos viverem na Inglaterra há alguns anos facilitou a escolha. Amigos e colegas chamaram-lhe louca por deixar um emprego estável mas ela não se arrepende. “Em Londres consigo ganhar o dobro do que ganhava em Portugal e neste momento trabalho apenas dois dias por semana, turnos de doze horas. É muito melhor”, considera.
Inês tem 30 anos e é de Almeirim. Faz parte de uma nova geração de emigrantes portugueses. Tem formação superior, sabe inglês e vive numa Europa sem fronteiras. Como ela há muitos outros jovens que deixam Portugal à procura de uma oportunidade de realização profissional que não conseguem no seu país e de melhores salários. Emigrar nem sempre é fácil e se há coisas que compensam há outras que não. “Nunca mais digo mal de Portugal, nem do nosso sistema de saúde nem do nosso sistema de ensino.
É preciso sair de Portugal para darmos valor ao que temos. Já percebi que o sistema de ensino inglês não é o melhor e quero dar o melhor à minha filha. Não me importo que frequente o primeiro ciclo em Londres até para aprender inglês mas depois regressamos”, explica convicta. A jovem também sente falta da maneira de ser dos portugueses, do sol e da comida. “Os ingleses são bem educados mas não são tão hospitaleiros como nós. São muito fechados e não convivem muito”, diz.
Actualmente de férias em Portugal e a poucas horas de regressar a Londres Inês Marmelo aproveita os últimos dias para desfrutar do sol e do calor que não tem em Inglaterra e da comida portuguesa. “Lá fazemos comida portuguesa mas não é a mesma coisa. Nem a galinha sabe da mesma forma”, confessa com um sorriso.
Quem também tem saudades da comida portuguesa é Mário Silva, um jovem de Tomar a viver em Amesterdão. Mas garante que não vai regressar a casa só por isso. “Sinto a falta do nosso sol e do bacalhau mas vou ficar por aqui. Na Holanda as condições de vida são melhores que em Portugal e não se fala em crise”, explica. Saudades maiores são as da família mas a internet e o telefone ajudam a encurtar distâncias. E Amesterdão fica mais perto agora do que ficava a França nos anos sessenta para os emigrantes de outros tempos.
O jovem trabalhava na Siemens, em Lisboa, como programador de sistemas de computadores quando foi chamado para fazer uma formação de duas semanas na sucursal de Berlim (Alemanha). As diferenças que sentiu sobretudo na forma de trabalhar foram “enormes” e foi aí que lhe nasceu a vontade de mudar de ares. “A empresa em Lisboa era muito mais desorganizada que a de Berlim e mesmo a nível da disponibilidade dos colegas na Alemanha as coisas funcionavam muito melhor.
Quando não sabíamos uma coisa eles explicavam e não criticavam ou gozavam por eu não saber, como acontecia em Lisboa”, conta o jovem, que O MIRANTE contactou através da internet. Depois da formação surgiu uma oportunidade de trabalho na mesma área em Amesterdão (Holanda) e Mário agarrou-a com ‘unhas e dentes’. A ideia inicial era ficar fora de Portugal durante dois anos mas já se passaram três e o jovem de 28 anos de idade, ainda não tem planos para regressar. “Ainda não me fartei de estar bem”, diz em jeito de brincadeira.
A viver na Alemanha depois de um estágio na América
João Banha Oliveira tem 29 anos e viveu em Vila Franca de Xira até concluir a licenciatura em Biologia e o mestrado em Imunologia Clínica. Vive em Berlim (Alemanha) desde o final do ano passado mas já viveu nos Estados Unidos da América em 2008 e 2010. A bolsa que o jovem investigador científico tinha do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge ia terminar e João Oliveira teve que optar.
“Se ficasse em Portugal o mais provável seria mudar a área de actividade profissional. A investigação no nosso país ainda tem muitas limitações e continuar na condição de bolseiro, da forma como funciona o nosso país, não era opção. Por isso escolhi procurar experiência internacional”, explica.
O jovem investigador confessa que ainda se está a adaptar ao novo país mas garante que as pessoas são simpáticas e acolhedoras. “Não são calorosos mas são bastante prestáveis”, diz. O mais difícil é mesmo a barreira da língua. João conta que está tudo sempre em alemão o que complica. Apesar de ter estudado alemão no ensino básico, o facto de ter deixado de praticar a língua deixa-o um pouco limitado. “Vou compreendendo cada vez melhor e vou falando o básico mas ainda não consigo ter uma conversa em alemão. No local de trabalho não tenho qualquer problema porque o inglês é dominado por todos. No dia-a-dia é que é mais complicado”, explica acrescentando que na zona leste de Berlim, onde mora, “ainda se notam os restos” da influência soviética, onde não era “comum” aprender inglês.