O PSD criticou hoje a visão do ministro Manuel Heitor sobre a formação em medicina geral e familiar, que poderá comprometer a exigência deste ensino, requerendo a audição parlamentar de um conjunto de entidades para valorizar esta especialidade.
Num requerimento que deu entrada hoje no parlamento, os deputados sociais-democratas referem-se à entrevista de hoje ao Diário de Notícias do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, considerando que algumas declarações são "totalmente incompreensíveis".
“A questão é que para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais. E, por isso, insisto que o alargamento da base de formação na saúde - quer médica, quer de técnicos de saúde, quer de enfermagem - deve ser feito em articulação com a diversificação da oferta, valorizando também outras profissões médicas, como, por exemplo, os médicos de família, que sabemos que na nossa sociedade, e sobretudo no sul da Europa, não são tão valorizados como outras especialidades”, disse o governante.
Na perspetiva dos deputados do PSD, algumas das declarações de Manuel Heitor “são totalmente incompreensíveis, para não dizer mesmo inaceitáveis”, já que “uma sua eventual concretização poderia comprometer a exigência do ensino e da formação em medicina geral e familiar”.
“E, para o PSD, a especialidade de medicina geral e familiar deve ser valorizada e a qualidade do seu ensino reforçada, ao invés de se adotarem soluções de enganador facilitismo, que poderão, ao invés, contribuir para a degradação das condições de formação dos profissionais médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, consequentemente, piorar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde”, defende o partido no mesmo requerimento.
Por isso, os sociais-democratas pedem a audição de um conjunto de entidades do setor na comissão parlamentar de saúde, entre as quais o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, a Ordem dos Médicos, o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos.
Na referida entrevista, Manuel Heitor anunciou querer alargar o ensino da medicina até 2023 e destacou Aveiro, Vila Real e a Universidade de Évora onde a abertura dos cursos poderá ocorrer, defendendo que são precisos mais médicos em Portugal e o alargamento da formação na saúde.
“Mas o alargamento da capacidade de formação faz sentido se for feito juntamente com a diversificação da oferta. Isto foi algo que nas áreas das Engenharias, das Tecnologias e até das Ciências Sociais e da Economia já foi feito há muito tempo. Algumas áreas, mais por interesses corporativos, não diversificaram a oferta. Vê-se que nós em Portugal, por opção das próprias instituições e também das ordens profissionais, formamos todos os médicos da mesma forma”, referiu.
Para o ministro, o alargamento na formação médica e biomédica tem de ser feito usando as experiências internacionais de diversificação dessa oferta.