associação ambientalista Quercus vai avançar com uma acção judicial contra o Estado Português por causa da construção, já em curso, de um troço de quatro quilómetros e meio a integrar a Estrada Nacional 221 no concelho de Freixo de Espada à Cinta. Esta via está destinada a servir, sobretudo, a população da freguesia de Poiares, que reivindica a estrada há mais de três décadas, no acesso à sede do concelho e a Barca de Alva (Guarda).
O objectivo da acção é, segundo declarou já o presidente da Quercus, Paulo Martins, \"responsabilizar quem autorizou ou deu pareceres necessários para a construção da obra\", que classifica como um \"atentado ambientalista\".
Esta estrada está localizada em pleno Parque Natural do Douro Internacional mas também na Rede Natura 2000. E, segundo Carlos Aguiar, da Quercus de Bragança, é precisamente este último facto que dá \"mais armas\" nesta luta contra o Estado português, que, acrescenta, \"prevaricou\" ao não cumprir o protocolo de que também é signatário e que rege a Rede Natura em que Portugal tem integrados 21 por cento da sua área territorial. Este protocolo, recorda Carlos Aguiar, implica compensações financeiras para a gestão das áreas protegidas em causa, mas, sublinha, \"implica também restrições\", que passam pela \"conservação dos habitats\", o que \"não está a ser respeitado\" neste processo. Alegadamente estão em perigo espécies protegidas como a águia de Bonelli, o falcão peregrino, o abutre do Egipto e o grifo.
Mas Carlos Aguiar afirma que também o Instituo de Conservação da Natureza, que \"tem sido uma estrutura fundamental na preservação do ambiente\", se \"portou mal\" neste processo, ao dar o parecer favorável ao avanço das obras, em Maio, depois de sete meses de suspensão dos trabalhos já então por interferência da Quercus.
Nesta altura, o traçado está praticamente feito, faltando apenas a pavimentação.
Esta acção surge na sequência de uma queixa apresentada pela mesma associação junto da Comissão Europeia, que, segundo Carlos Aguiar, solicitou mais elementos para análise, entretanto já enviados.
Respondendo às acusações generalizadas de que os ambientalistas travam o desenvolvimento, Carlos Aguiar recorda que o turismo na região passa pela conservação da natureza, e diz mesmo que o presidente da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta, Edgar Gata, que já reagiu referindo-se ao \"o radicalismo\" dos defensores do ambiente, \"está a dar um tiro no pé\" ao \"destruir o que o concelho tem de melhor\".
\"Não estou nada preocupado em ir a tribunal por fazer bem ao povo\", afirma Edgar Gata, acrescentando que \"o radicalismo dos ambientalistas descamba em irracionalismo\". O autarca garante ainda que, \"ao contrário do que alega a Quercus, a estrada não passa a 50 metros, mas a sete ou oito quilómetros do Penedo Durão e a algumas centenas de metros da escarpa mais sensível em termos de fauna\".
Faltam apenas duas semanas para o final dos trabalhos de abertura do traçado, a que se seguirá a pavimentação da estrada, mas a Quercus considera que \"não se pode permitir que o facto seja dado como consumado e que ninguém seja responsabilizado por tamanho atentado ambiental\".