Um artesão a trabalhar ao vivo o barro negro de Bisalhães e o atelier “Pequenos Oleiros” assinalam na terça-feira o dia de São Pedro, em Vila Real, onde a tradicional Feira dos Pucarinhos foi cancelada devido à covid-19.
“É um pequeno contributo para que este dia não fique esquecido e para que Vila Real mantenha a tradição”, afirmou hoje à agência Lusa a vereadora da câmara Eugénia Almeida.
Pelo segundo ano consecutivo, o São Pedro foi cancelado em Vila Real devido à pandemia de covid-19, uma festa que decorria nos dias 27, 28 e 29 e que incluía a tradicional Feira dos Pucarinhos, com a venda do Barro Preto de Bisalhães.
O processo de fabrico do barro preto de Bisalhães foi inscrito em 2016 na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO.
Para manter a tradição, um dos oleiros vai trabalhar ao vivo e vender o seu barro no exterior do Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.
No Museu da Vila Velha vai decorrer, em duas sessões, o atelier “Pequenos Oleiros”, onde os mais pequenos vão conhecer esta arte ancestral e vão também meter a mão no barro e experienciar o trabalho na roda.
A iniciativa dos “Pequenos Oleiros” tem percorrido várias escolas do concelho e está a ser recolhido material feito pelas crianças para uma futura exposição.
“Vamos continuar a repetir estas sessões para que esta tradição não se esqueça e para que as nossas crianças possam perceber o quão importante é para Vila Real”, referiu Eugénia Almeida.
Na Loja Interativa de Turismo estará também um expositor da Junta de Freguesia de Mondrões, onde está inserida a aldeia de Bisalhães, com uma mostra de algumas das peças de barro negro para promover a arte classificada pela UNESCO.
A Câmara de Vila Real avançou com a candidatura do processo de fabrico do barro negro de Bisalhães à lista do património cultural imaterial que necessita de salvaguarda urgente, precisamente por esta ser uma atividade em vias de extinção.
Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.
Em Bisalhães o barro é moldado pelas mãos de Cesário Martins, Manuel Martins e Querubim Rocha, os três com mais de 80 anos, e ainda Jorge Ramalho (filho de oleiro) e Miguel Fontes (neto de oleiros).
As peças que nascem pelas mãos dos artesãos são depois cozidas em velhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
E foi este processo de fabrico que foi classificado pela UNESCO.
Em março de 2015, o processo de confeção do barro negro de Bisalhães foi reconhecido como património cultural nacional.
A Junta de Mondrões vai preparar o forno comunitário para poder ser visitado e estão ainda a ser finalizados os ‘totens’ informativos sobre todo o processo de confeção do barro preto e a sinalética.
Fotografia: Antonio Pereira