A partir deste ano o olival tradicional, o mais representativo no Norte, vai deixar de receber as ajudas financeiras comunitárias com que contava. Teme-se o abandono do olival pelos agricultores.
O Programa Operacional de Desenvolvimento Rural (PRODER) em vigor até 2013 não prevê ajudas específicas ao olival tradicional, com excepção do olival de produção biológica.
A falta de apoios financeiros públicos está a dar origem ao abandono dos olivais. Em diversos concelhos do distrito de Bragança há olivicultores que deixaram de tratar as suas terras e há casos em que já estão a ponderar não proceder à apanha da azeitona.
António Branco, presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro (AOTAD), garante que o abandono do olival tradicional terá um \"impacto fortíssimo\"na região, com consequências \"dramáticas\" não só a nível económico, com a diminuição da produção de azeite e redução de rendimentos por parte dos pequenos agricultores, mas sobretudo na perda de capital genético. \"Está em causa a identidade genética do olival transmontano, um património genético único no mundo, que é uma marca distintiva dos restantes azeites\", explicou António Branco.
Muitos dos olivais de produtores que têm ganho concursos internacionais com azeites transmontanos utilizam espécies do olival tradicional, algumas delas típicas da região, \"diferentes das do Alentejo, de Espanha ou de Itália, as novas oliveiras são iguais em todo mundo\", acrescentou.
O olival tradicional é o tipo de olival mais representativo de Portugal, distribuindo-se, dominantemente, em pequenas parcelas, envolvendo milhares de pequenos e médios agricultores que retiram do olival uma parte substantiva dos seus rendimentos.
Armindo Lopes, presidente da Cooperativa Agrícola de Izeda, prevê que se os olivais forem abandonados, as consequências ambientais, económicas e sociais \"serão trágicas\".
Para além da função produtiva de azeitona e de azeite, o olival tradicional contribui fortemente para o equilíbrio ambiental e paisagístico, que são também uma marca da identidade transmontana, até ao nível dos próprios muros em xisto, cujos olivais que os possuíam recebiam uma majoração do subsídio. Olivais abandonados serão mais um risco de incêndios florestais.
\"A produção no olival tradicional envolve custos elevados, dada a baixa possibilidade de mecanização, a que acresce a baixa produtividade, por se tratar de uma cultura de sequeiro\", explicou Adão Silva, deputado do PSD, que já inquiriu o Ministério da Agricultura sobre que medidas estão previstas para ajudar os olivicultores.
Na última colheita já se registou o abandono da vários hectares de olival. Os proprietários recusaram apanhar a azeitona porque os custos ficavam acima do valor de mercado da azeitona e do azeite.