Se não chover bastante, a seca hidrológica poderá chegar já na Primavera.
Para já, não há restrições ao consumo de água nem à utilização na agricultura e na produção de electricidade. Mas se não chover bastante nos próximos meses, e a seca meteorológica que já afecta todo o território agravar ainda mais a situação das barragens, o País entrará em seca hidrológica já na Primavera e a água poderá faltar. Se hoje as temperaturas se mantiverem altas, algumas zonas poderão até entrar em onda de calor.
O alerta é do presidente do Instituto de Meteorologia (IM) que sublinha a escassez de precipitação registada ao longo deste ano e a situação complicada já herdada do ano anterior. \"Desde Janeiro, a precipitação acumulada é inferior à média registada no período de referência (1971-2000)\", afirmou ao DN, Adérito Serrão. Situação mais grave só se verificou em 2004 e 2005, anos em que Portugal atravessou uma seca gravíssima.
O Outono assinala o início do ano hidrológico e deveria significar também a chegada da chuva. Mas a avaliar pelas temperaturas dos últimos dias e pela confirmação da previsão de um mês de Outubro mais quente e seco, o futuro poderá não ser animador.
O último boletim do IM refere que Setembro foi o mês mais seco dos últimos 22 anos. Os termómetros, que costumam rondar os 22 graus centígrados, têm registado valores de 29, 30 e até 32 graus.
Se a chuva que cair nos próximos meses for semelhante à da média dos últimos 30 anos, a situação de seca será apenas \"desagravada\", salienta Adérito Serrão. Ou seja, não deixará o território preparado para um eventual ano seco, no próximo ciclo hidrológico.
Orlando Borges, presidente do Instituto da Água (Inag), está preocupado com a situação. Mas prefere sublinhar o facto de as barragens estarem a cumprir a sua função: armazenar água nos períodos chuvosos para garantir o abastecimento nos momentos de escassez. Os armazenamentos, diz, garantem que de uma situação de seca meteorológica (falta de chuva) não se passe automaticamente para uma seca hidrológica (pouca água armazenada).
O boletim do Inag de Setembro mostrava que, das 56 albufeiras monitorizadas, 21 tinham disponibilidades hídricas inferiores a 40 por cento do volume total e duas apresentavam reservas superiores a 80 por cento. As bacias do Tejo, Cávado, Guadiana, Mira e Barlavento algarvio são as que apresentam maior armazenamento, enquanto que os índices mais baixos se registam no Arade e, com mais alguns pontos percentuais, nas bacias do Oeste e Sado.
As restrições ao consumo são afastadas por Orlando Borges. \"Nos abastecimentos, há reservas para dois anos. Não se prevê necessidade de restringir os usos da água\", assegurou.