O Paço de Vilar de Perdizes, um conjunto de edifícios que faziam parte do extinto Morgadio desta freguesia, instituído em 1551, é o cenário principal de um pequeno filme que irá ser exibido no canal um da RTP e no cinema, dentro de alguns meses.

A curta-metragem, a cargo da Take 2000, uma produtora lisboeta, e sob orientação da conhecida realizadora Margarida Gil, foi gravada na semana passada naquele complexo histórico. Contudo, cenas houve que foram filmadas nas fraldas da serra do Larouco, junto à Freguesia de Santo André, a escassos quilómetros de Vilar de Perdizes.

A história principal, adaptada de um conto tradicional anónimo, "Não me cortes o cabelo que o meu pai me penteou", anda à volta de uma relação conflituosa entre uma rainha "malvada" e a sua filha. A princesa acaba mesmo por ser enterrada viva pela própria mãe, depois de ter deixado comer um figo da figueira que a rainha lhe tinha mandado guardar dos pássaros. Mas a morte da princesa é apenas física, pois o seu espírito vai continuar a aparecer ao príncipe por quem estava apaixonada.

O conto, agora transformado em filme, não é, porém, novidade em Vilar de Perdizes. Uma versão semelhante da trágica história consta da memória de alguns habitantes daquela aldeia, em forma de mote musical, apesar de, conforme explicou ao DTOM o director de produção, Carlos Gonçalo, se tratar de uma fábula conhecida em vários países do Norte da Europa.

Além do cenário, também as personagens são locais. O mediático padre Fontes vai encarnar o papel de Rei e a maquiavélica rainha vai ser personificada por uma mulher de Vilar de Perdizes. As restantes quatro personagens são jovens estudantes da Escola Secundária de Montalegre.

O projecto foi financiado pela própria RTP e pelo Instituto de Ciência, Audiovisual e Multimédia e está agora em fase de pós-produção.

A história do Paço

O Paço de Vilar de Perdizes é um complexo arquitectónico constituído por quatro edifícios: o próprio paço, espécie de solar onde a família dos morgados residia e exercia as suas funções administrativas, um hospital, uma capela, uma farmácia, e ainda uma parada e vários terrenos agrícolas adjacentes às construções.

Este conjunto arquitectónico era a cabeça do Morgadio (património ligado a uma família e que geralmente era transmitido hereditariamente ao primeiro filho varão) de Vilar de Perdizes. Criado em 1551 por um descendente de D. Afonso III, Rei de Portugal, este Morgadio tinha três funções: uma militar, participando na defesa da fronteira; outra religiosa e assistencial, acolhendo e assistindo no hospital e na capela, os peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela, na Galiza, e uma outra administrativa, já que eram os morgados que, por Bula Papal datada de 1555, administravam os rendimentos da paróquia de Vilar de Perdizes, que, na altura, incluía mais cinco aldeias vizinhas: Gralhas, Soutelinho da Raia, Solveira, Meixide e Santo André.

No entanto, ao longo dos séculos, o Paço de Vilar de Perdizes sofreu profundas alterações. Sabe-se que foi atacado três vezes pelos espanhóis, em 1658, em 1665 e em 1708, e que em dois desses ataques terá mesmo sido incendiado.

No século passado, este património saiu inclusivamente da posse dos morgados de Vilar de Perdizes, o último dos quais foi dona Maria da Graça de Sousa Pereira Coutinho. No entanto, em 1964, o paço foi readquirido pelos descendentes daquela família, os Bettencourt, actualmente a residir em Lisboa.

Em 1996, os novos proprietários promoveram uma candidatura junto do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), a fim de lhe ser reconhecido interesse público. Porém, o processo está "atrasado", garantiu um dos filho do proprietário.

Ao que o DTOM conseguiu apurar junto do Ippar, as "demoras" prendem-se com questões processuais e até com a própria legislação sobre património cultural, em fase de "transição". No entanto, o que estará ainda por definir em relação ao processo do Paço de Vilar de Perdizes, será o grau da classificação a atribuir.



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