Um grupo de padres do Douro está descontente com as celebrações dos 250 anos da Região Demarcada, que consideram estar a ser «feita para elites, governantes e ministros, esquecendo-se das pessoas da região, que ainda por cima estão cada vez mais pobres», como disse, ao JN, o padre Luís Marçal Moreira, líder do movimento .
Luís Marcal Moreira, que é arcipreste de Peso da Régua, diz não compreender \"como é que se podem esquecer as pessoas\". \"O Douro é paisagem, é cultura, é turismo, é vinho. E os seres humanos? Aqueles que se levantam de noite com receio do míldio e deitam as mãos à cabeça quando pressentem trovoada?\", interroga. Desses, e segundo um grupo de 13 padres dos municípios de Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião e Mesão Frio (zona Pastoral Douro I, da diocese de Vila Real), \"ninguém se lembra\".
Os sacerdotes emitiram um documento a propósito das comemorações, a que chamaram \"perplexidades e preocupações\", e onde lançam um apelo a todos os padres da Região Demarcada do Douro, que integra 22 municípios de várias dioceses (Vila Real, Bragança/Miranda, Guarda, Viseu e Lamego). Nas missas do dia 10 de Dezembro (as comemorações oficiais terminam a 14), os padres vão \"contribuir para a celebração numa base paroquial, com o povo, os pequenos agricultores, aqueles que vêm os filhos obrigados a emigrar para ganharem a vida, ou seja, com a participação do povo humilde das nossas terras\".
O padre Luís diz que \"é importante celebrar o passado, mas não com fogos-fátuos, porque o Douro não está morto, mas está moribundo. E o mais importante é analisar o presente e pensar o futuro, em vez de andar com festas de arraial seco, que os senhores do Terreiro do Paço usam para ganhar mediatismo\".
\"Vamos todos rezar. Em vez de júbilo com o que já passou, vamos pedir a Deus que ajude as associações da região a juntarem-se em bardo (videiras de braço dado), e que a todos ilumine para um futuro melhor \", acrescente. O arcipreste quer que \"os responsáveis do país ajudem \"a estancar a hemorragia demográfica, que devolvam à região e à Casa do Douro o que nos roubaram\".
Os padres estão cientes de que poderão \"ferir susceptibilidades\", mas lembram \"Não podemos olhar para o Homem apenas na sua dimensão religiosa. Que consolo podemos dar a um agricultor que gasta mais na vindima do que recebe pelo vinho, depois de andar o ano todo vergado de trabalho?. Nós falamos com as pessoas tristes, amarguradas, pesarosas. Não é justo que haja tanta desigualdade, injustiça, miséria, enquanto se fazem festas para pessoas que nem sabem o que é o Douro\".