A região do Douro volta a viver graves dificuldades económicas e sociais. As adegas cooperativas, que suportam 40% da produção - ou seja mais de 50 mil pipas das 127 mil estipuladas no último comunicado de vindima, contra 107.9, em 2003 -, e muitos produtores independentes, não conseguiram, ainda, na sua esmagadora maioria, vender o vinho.
Desta forma, não é possível pagar ao pequeno produtor até ao Natal, como costuma ser quase ponto de honra.
A situação parece inexplicável, já que, sendo o sector de vinho do Porto totalmente regulado, só foi produzido o número de pipas que os representantes do Comércio disseram precisar para manter o seus stocks, exportando, como mandam as regras, um terço dos mesmos.
Segundo Fernando Pinto, presidente da União das Adegas do Douro e da Adega Cooperativa da Régua, \"a região está economicamente paralisada. O Comércio ainda não veio ao négócio e ainda não há qualquer preço indicativo\", explicou. Para este responsável, \"as consequências são muito graves, pois, como não há dinheiro, os próprios agricultores estão a ver-se obrigados a diferir os granjeios, o que provoca, também, falta de trabalho\".
O presidente da Casa do Douro, Manuel António Santos, diz que \"o Douro poderá estar às portas de uma hecatombe financeira que aproveitará a uns e destruirá milhares\". Lembra que, \"nos últimos anos, como a crise não era generalizada, havia sempre quem individual ou colectivamente se safasse, não se incomodando com a globalidade do problema\". E recorda que \"desde 2001 que esta situação se desenhava, porque o Comércio tem feito o crescimento dos vinhos como forma de pressionar os agricultores, levando-os a consentir o abaixamento dos preços\". \"Actualmente, ninguém fez negócios firmes e aqueles que se apalavraram estão sem preço\".
A Adega Cooperativa de Lamego não vai, \"pela primeira vez em muitos anos, pagar aos 600 associados no Natal\", explica o presidente, Arlindo Lobão. As perspectivas de venda das 1400 pipas de vinho produzidas são \"muito poucas\" e aquele responsável está \"preocupado, também, com as consequências sociais, porque os pequenos viticultores já estão a passar dificuldades no seu dia-a-dia\".
Eduardo Lopes, presidente da Cooperativa de Santa Marta de Penaguião, lembra que, \"em anos anteriores, a maior parte dos vinhos já estava vendida nesta altura\". Na Adega de Freixo de Numão, António Lobão diz, também, que \"não vai ser possível pagar aos 800 associados antes do Natal\". Preocupação comum a todos os dirigentes associativos é a de que \"esta situação esmague os preços, que no ano passado andaram entre os mil e os 1100 euros a pipa\".