O Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial ZASNET, que junta entidades portuguesas e espanholas, alertou hoje para a ameaça da instalação de uma mina a céu aberto junto da fronteira para a Reserva da Biosfera Transfronteiriça da Meseta Ibérica.

O reconhecimento como reserva da biosfera foi conferido há cinco anos pela UNESCO, o organismo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, ao território que abrange o Nordeste Transmontano, no lado português, e Zamora e Salamanca, em Espanha.

O Agrupamento Europeu é constituído por entidades dos mesmos territórios e responsável pela reserva da biosfera e vem agora alertar que o reconhecimento da UNESCO está “em risco” devido ao projeto que tem gerado polémica, desde o verão de 2020, da instalação de uma exploração mineira a céu aberto na zona de Calabor, em Espanha, a cerca de cinco quilómetros de Bragança.

O ZASNET “solicita às entidades responsáveis pela realização da avaliação do Estudo do Impacto Ambiental (EIA) causado pela instalação da mina a céu aberto, Valtreixal, que tenham em conta as consequências negativas” para esta reserva da biosfera e o respetivo modelo de desenvolvimento sustentável.

“A instalação desta mina, em Calabor, é altamente poluente, não só localmente, mas afeta uma área muito maior que o espectável, tanto ao nível do solo como da água e da atmosfera”, conclui o agrupamento constituído pelas Associações de Municípios de Terra Fria do Nordeste Transmontano e da Terra Quente Transmontana, a Câmara Municipal de Bragança e as Diputaciones de Zamora e Salamanca, bem como o Ayuntamiento de Zamora.

Em comunicado assinado pelo presidente, Hernâni Dias, também autarca de Bragança, o ZASNET salienta que a possibilidade da exploração mineira “também é considerada muito prejudicial aos ecossistemas em todo o território, com especial incidência em áreas protegidas e classificadas como Sítios de Importância Comunitária (SIC) ou Zonas de Proteção Especial (ZPE)”.

“Desta forma, o ZASNET alerta que a localização desta mina a céu aberto no coração da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica, com as suas Áreas Protegidas e Zonas de Proteção Especial, como a Rede Natura 2000, afetará o equilíbrio dos ecossistemas e, consequentemente, a população residente e não residente”, sustenta.

O agrupamento “qualifica o projeto da mina Valtreixal como altamente desfavorável ao turismo de natureza, uma vez que compromete as bases e fundamentos do programa MaB (Homem e a Biosfera) o selo atribuído pela UNESCO, com grande esforço, a este território”.

A exploração mineira é ainda encarada como “muito adversa para as futuras atividades que o ZASNET pretende desenvolver”, nomeadamente um investimento de dois milhões de euros” para ações como a criação da marca corporativa RBT Meseta Ibérica, organização de eventos, centros de Interpretação, roteiros e pacotes turísticos, entre outras.

O projeto de exploração mineira previsto para a zona de Calabor esteve em discussão pública durante o mês de agosto e foi contestado do lado português por associações, autarcas e partidos políticos.

O ministro do Ambiente português, João Pedro Matos Fernandes, esclareceu, em setembro, que Portugal tinha pedido mais informação a Espanha para emitir um parecer técnico sobre o projeto.

O projeto espanhol visa a exploração a céu aberto de estanho e volfrâmio da mina Valtreixal, de Sanábria, em Calabor, Pedralba de la Pradería, a cinco quilómetros do concelho de Bragança.

A promotora é a Valtreixal Resources Spain, pertencente a um grupo canadiano do setor, e aponta para a criação de 200 postos de trabalho diretos e 400 indiretos com um investimento de 35 milhões de euros para reativar a exploração de volfrâmio e estanho inativa desde a década de 1970.

HFI // JAP Lusa, Foto: Antonio Pereira



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