As rochas que moldam a paisagem do Nordeste Transmontano, e que constituem uma das atracções turísticas locais, são as mais antigas de Portugal e um testemunho das transformações geológicas do planeta Terra, refere um estudo divulgado esta quinta-feira, em Bragança.
Onze investigadores do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI) e da Universidade do Minho (UM) estudaram, entre 2001 e 2005, a geologia no património natural das áreas protegidas do Douro Internacional e de Montesinho, no âmbito de um projecto, cujos resultados foram hoje apresentados publicamente.
Afinal a figura do «mar de pedra», utilizada pelo poeta transmontano Miguel Torga para descrever a imensidão de fragas que polvilha a região, guarda milhões de anos da história geológica do planeta Terra.
Segundo um dos autores do projecto, Carlos Meireles do INETI, existem rochas no parque Natural de Montesinho, perto da cidade de Bragança, que reflectem a antiguidade do planeta, «com idades de mil milhões de anos e que são as rochas mais antigas do país».
Testemunhos da evolução da Terra e do movimento tectónico são os assombrosos «muros» naturais que encaixam o rio Douro Internacional ou o chamado «Muro da Abalona», um maciço rochoso que sai das entranhas da terra, com quase 30 metros de altura e cinco de largura, em Freixo de Espada à Cinta.
Entre as curiosidades naturais encontram-se também os penedos que salpicam a paisagem em Carrazeda de Ansiães e que parecem desafiar a própria gravidade pela forma como se equilibram aparentemente sem sustentação proporcional ao tamanho e peso.
Estes são alguns dos locais documentados e apresentados numa exposição que abriu hoje ao público, no Centro Cultural de Bragança, e que serão integrados em publicações a divulgar junto da população e em particular da comunidade académica, sobretudo estudantes.
De acordo com Carlos Meireles, um dos fenómenos mais importantes da história da Terra, que esta região testemunha, é o choque tectónico que terá acontecido há 300 ou 350 milhões de anos e que transportou para aquele que é agora o Nordeste Transmontano material de outro continente.
Segundo explicou, o fenómeno ocorreu numa altura em que a Terra era muito diferente daquela que hoje conhecemos e em que ainda não tinha ocorrido sequer a abertura do Oceano Atlântico.
Montesinho é, segundo aquele investigador, «reflexo desta evolução histórica, assumindo-se como uma das zonas geologicamente mais complexas do país, pela sua diversidade, integrada numa área mais vasta que se estende até à Galiza», em Espanha.
Referiu ainda que estas características geológicas condicionam o próprio ecossistema e o ordenamento do território, nomeadamente ao nível da construção.
Segundo Graciete Dias, da Universidade do Minho, o propósito deste projecto «é divulgar estes valores naturais e ajudar a interpretar os fenómenos geológicos que proporcionam as paisagens tão apreciadas no Nordeste Transmontano, mas cuja origem é muitas vezes desconhecida».
O projecto serviu para documentar a evolução histórica, elaborar cartografia geológica e a inventariação dos recursos existentes, que já fizeram desta uma importante região mineira e que estão presentes no quotidiano da população, nomeadamente ao nível da habitação, já que muitas das casas rústicas são construídas com a pedra que a natureza oferece, como o granito ou o xisto.
A divulgação dos resultados deste projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Instituto de Conservação da Natureza (ICN) será feita também pelos parques naturais da região.