O músico e pedagogo na área musical Eurico Augusto Cebolo, autor de manuais como “Órgão Mágico” ou “Guitarra Mágica”, morreu na sexta-feira, aos 83 anos, disse à Lusa o guitarrista e professor Aires Pinheiro.
Nascido em Coleja, no concelho de Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança, Eurico A. Cebolo foi autor de múltiplos manuais de ensino de música, tendo sido com os seus livros que milhares de alunos se iniciaram na aprendizagem de um instrumento musical.
Segundo Aires Pinheiro, que analisou o método de ensino de guitarra de Eurico A. Cebolo durante os estudos, este pretendia democratizar o processo de ensino da música e os seus manuais distinguem-se pela eficácia do método.
"São livros muito eficazes, qualquer pessoa, um melómano, consegue num primeiro momento tocar" com base nos seus manuais, afirmou à Lusa o guitarrista, professor e investigador.
Aires Pinheiro disse que, no meio académico, por vezes se questiona o método de Eurico A. Cebolo, mas que "a verdade é que se pega no 'Órgão Mágico' ou na 'Guitarra Mágica' e se sai de lá a tocar".
"O método dele, para o objetivo a que se propunha [de iniciar uma pessoa num instrumento], era extremamente eficaz", afirmou, acrescentando Aires Pinheiro que também ele aprendeu a tocar pelos livros de Eurico A. Cebolo antes de seguir o ensino mais formal.
Eurico A. Cebolo vivia no Porto, onde era proprietário da loja Musicarte, dedicada à venda de instrumentos musicais e à edição dos livros de teoria música.
“De família humilde, frequentou o Colégio João de Deus, no Porto, onde fez os estudos gratuitamente, devido à sua boa capacidade de aprendizagem. Sempre gostou de escrever e já no Colégio desenhava histórias aos quadrinhos, que depois vendia aos colegas mais abastados. Aos 16 anos, emigrou com a mãe para Moçambique, ao encontro do pai, que para aí fora um ano antes. Lá residiu de 1954 a 1975”, segundo a biografia disponível na página da Musicarte.
Na então Lourenço Marques (hoje Maputo), começou a aprender acordeão e, ao fim de um mês, já dava ele próprio aulas. De acordo com a mesma biografia, não mais voltou a receber aulas de música.
Um acidente de viação, em 1975, matou o primo, que conduzia, e paralisou Eurico Cebolo, parcialmente, obrigando a uma recuperação lenta que interrompeu a carreira que tinha desenvolvido até ali de concertista.
Como explicou, numa entrevista ao jornal Público em 2019, o acidente levou-o para um novo rumo: “Como não podia tocar, que era o que mais gostava de fazer, comecei a escrever os livros.”
“Após a descolonização, todos os bens que possuía em Moçambique foram confiscados e a conta bancária congelada. A partir do acidente, fixou residência no Porto, onde abriu um pequeno estabelecimento de venda de instrumentos musicais e escola de Música, esta sempre a sua primeira razão de ser, consagrando toda a sua vida a esta arte”, acrescentava a biografia de Cebolo.
Nas suas próprias palavras, na mesma entrevista, há dois anos, Cebolo explicou que escreveu “os livros de maneira a que toda a gente perceba e partindo do princípio de que quem os lê está a começar a aprender”, realçando que “não há idade para começar a tocar um instrumento.”
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