A solidariedade pratica-se. A exemplo disso, duas funcionárias da Cooperativa Agrícola de Montalegre organizaram uma colecta para comprar uns óculos a uma criança de quatro anos, que sofre de miopia. Apesar de estarem em causa menos de 300 euros, a mãe do pequeno, que há alguns meses perdeu o marido, não tinha possibilidade de os comprar.

Sensibilizadas com as dificuldades económicas de uma jovem mãe que não tinha disponíveis 300 euros para comprar os óculos que o seu filho de quatro anos precisa, duas funcionárias da Cooperativa Agrícola de Montalegre, Judite Freitas e Amélia Machado, decidiram organizar uma colecta para angariar esse montante. \"Ouvimos a história daquela senhora à sua advogada, que, para a ajudar, não lhe tem levado dinheiro para tratar do inventário por causa da morte do marido e ainda lhe tem pago os documentos necessários\", conta Judite Freitas. \"Mas o que mais nos impressionou foi o facto daquela mãe não poder comprar os óculos do filho, que pela falta de visão cai muito e já anda todo marcado das quedas\", acrescenta a mesma funcionária.

Na Cooperativa, a história acabou por \"mexer\" com todos os funcionários e, por isso, juntaram-se à causa que Judite Freitas e Amélia Machado iniciaram. Além disso, o peditório estendeu-se também aos funcionários da Caixa de Crédito Agrícola e da Zona Agrária, bem como a alguns agricultores, que ao terem conhecimento do caso também quiseram dar a sua contribuição. O proprietário da óptica onde foram comprados os óculos contribuiu fazendo um desconto de dez por cento. No total foram 31 os doadores. E os cerca de 300 euros necessários para os óculos foram ultrapassados. Agora, com os cem euros que sobraram, Judite Freitas e Amélia Machado pretendem fazer um cabaz de Natal para oferecer à família.

Reparar a casa

Esta é, no entanto, a parte feliz de uma história de pobreza que envolve uma jovem mãe, Maria Frutuoso e os seus dois filhos, Cristina e Aníbal Frutuoso, com 7 e 4 anos, que moram numa velha casa no lugar de Canissó, no concelho de Montalegre.

Embora nunca tenha sido fácil, a vida de Maria Frutuosa, com apenas 29 anos de idade, complicou-se com a morte repentina do marido, em Fevereiro do ano passado. Os 24 contos de reforma de viuvez com que ficou mal chegam para pagar a segurança social, onde foi obrigada a inscrever-se para dar continuidade ao projecto de jovem agricultor que o seu marido tinha investido. Mas cujos animais, 19, nunca chegara a pagar aos seus pais, que, por isso, recebem a maior parte dos lucros da actividade.

Estas circunstâncias levaram a que Maria Frutuosa não tivesse condições económicas para comprar os óculos que o filho mais novo precisa de usar. Para resolver a situação, a mãe da criança recorreu à segurança social e aos serviços sociais da Câmara Municipal de Montalegre. Fê-lo em vão, contudo. \" Tanto num lado como noutro disseram-me que para este ano já não tinham verbas\", conta Maria Frutuosa, encolhida no seu luto, de onde sobressaem apenas os seus olhos muito azuis, referindo-se às \"negas\" que recebeu naquelas duas instituições.

Mas agora Maria Frutuoso está \"muito feliz\". Pois graças à \"generosidade\" das funcionárias da Cooperativa Agrícola, o seu filho já \"vê bem e não tropeça\". \"Agora, não tira os óculos um segundo\", refere a jovem. Mas Maria tem outras necessidades: a reparação do telhado da casa, para que deixe de chover lá dentro, e o arranjo da casa de banho, que também está em más condições.

Outra das suas aspirações é arranjar trabalho. \"Já me inscrevi no Centro de Emprego, mas para já não me saiu nada\", conta desiludida Maria Frutusoa, que tem apenas a quarta classe.



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