Pequenos e médios viticultores do Douro queixaram-se hoje da quebra de rendimentos decorrente da diminuição de benefício na vindima 2019 e reivindicaram o aumento do preço pago ao produtor por pipa de vinho do Porto.

“Ser viticultor no Douro é uma maneira alegre de empobrecer”, disse hoje à agência Lusa José Mota, produtor na freguesia de Guiães, no concelho de Vila Real.

O conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) fixou em 108.000 o número de pipas (550 litros cada) a beneficiar nesta vindima.

O benefício é a quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto e é uma das principais fontes de rendimento dos produtores durienses.

José Mota tem 14 hectares de vinha de onde, em média, tira 35 pipas de benefício, mas ainda não conseguiu fazer as contas às pipas que vai perder nesta vindima.

“O benefício é a única fonte de rendimento que nós temos. O consumo praticamente não paga o trabalho e os custos de produção. Se baixa o benefício baixa o rendimento dos agricultores”, afirmou.

Em sentido contrário, salientou, “aumentam os custos de produção”, quer os produtos fitofármacos, os combustíveis ou a mão de obra.

“Para quem vive da agricultura, quem tem pessoal a trabalhar diário, despesas e impostos, cortar em dois anos 10.000 pipas de benefício é muito”, referiu Sandra Lopes, viticultora também em Guiães.

A produtora elencou ainda a inclinação dos terrenos no Douro, que dificultam a mecanização e obrigam a recorrer a "muita mão de obra".

Em cerca de 30 hectares de vinha, colhe uma média de 50 pipas de benefício e também ainda não fez contas à redução.

“Estamos dependentes de tudo, nomeadamente das condições climatéricas. Podemos andar a trabalhar todo o ano e depois pode vir uma tempestade e ficamos sem nada”, referiu.

Sandra Lopes tirou a licenciatura em Engenharia Zootécnica e está a acabar o curso de Enologia e disse estar arrependida de ter seguido o coração e ter escolhido a agricultura.

António Aires é viticultor em Abaças (Vila Real), onde tem pouco mais de dois hectares de vinha e três pipas de benefício.

Queixou-se da perda de rendimentos e dos vários tratamentos que já teve que fazer na vinha para fazer face ao tempo instável e impedir que as doenças estraguem as uvas. Este ano já foram seis e hoje fará o sétimo devido ao nevoeiro da manhã.

“O lavrador anda sempre com o coração nas mãos até meter as uvas na adega”, referiu.

Luís Pavão possui quatro hectares e meio de vinha em Abaças, com 12 pipas de benefício, e fala na agricultura como “um negócio sem teto”.

“Esta redução é uma má notícia principalmente se não acompanharem com uma subida dos preços da pipa de vinho. Uma vez que reduzem à quantidade de pipas para benefício deviam aumentar o preço da pipa”, salientou.

O preço da pipa de vinho do Porto pago ao produtor ronda entre os 800 e os 1.000 euros.

Também Manuel Figueiredo Silva, do Movimento dos Viticultores Durienses, que está em fase de instalação, disse à Lusa que espera que a redução do benefício seja “colmatada com um aumento do preço pago ao produtor”.

Este viticultor em Folgosa do Douro, em Armamar, salientou que “qualquer diminuição se reflete automaticamente no rendimento dos produtores” e referiu que, mesmo que seja “menos meia pipa, equivale a 500 euros a menos que podiam servir para fazer dois tratamentos à vinha”.

A União das Adegas Cooperativas do Douro (Uniadegas) afirmou, em comunicado, que a “redução drástica” no benefício “é um grave atentado aos interesses dos agricultores e vitivinicultores do Douro” e afirmou que a decisão “só pode interessar às empresas exportadoras e obviamente prejudica o país”.

Em dois anos, o benefício diminuiu em 10.000 pipas de vinho, passando de 118.000, em 2017, para as 108.000, em 2019. Em 2011, a região demarcada beneficiou 85.000 pipas, valor que foi aumentando até 2017.



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