O nordeste transmontano vive nesta altura do ano um período «mágico» com as festas dos mascarados que saem à rua nos próximos 12 dias e que deixam investigadores intrigados e populações em alvoroço.

»Estes rituais do solstício de inverno são manifestações populares, onde se juntam o sagrado e o profano, as duas principais componentes destes atos festivos que surgem de forma muito «sui generis» e que são diferenciados de aldeia para aldeia», explicou à Lusa o investigador António Tiza, também presidente da Academia da Máscara Ibérica.

Segundo o investigador, estes rituais, que envolvem figuras «demónicas e pantomineiras mascaradas» e que encarnam ritos de «fecundidade e abundância», são cultos a prestar nas festas de inverno no nordeste transmontano: uns são dedicados aos santos, ouros a Jesus Cristo no seu nascimento e na adoração pelos Reis Magos.

Por outro lado, e com um cariz mais pagão, são celebrados outros rituais semelhantes em honra dos deuses, do sol da natureza e num espaço único que é a rua ou a praça pública.

O Carocho de Constantim e Velha de Vila Chã (Miranda do Douro), os Velhos em Bruçó, o Farandulo de Tó, ou o Chocaleiro de Bemposta (Mogadouro), são apenas alguns dos rituais «ainda carregados da sua pureza original», que nos próximos 12 dias animam as gélidas terras transmontanas.

«Estes rituais chegaram aos nossos tempos carregados de simbologia, embora no passado tenham sido perseguidos pela Igreja, chegando mesmo a serem proibidos em algumas localidades. A vontade popular falou mais alto continuam a animar o Natal transmontano», disse António Tiza.

Estes rituais são «únicos em território nacional» e, ano após ano, investigadores vindos de Espanha, França, Inglaterra e outros países do norte da Europa deslocam-se às aldeias nordestinas para percebem o significado de tais manifestações de raiz popular e que se perdem na memória do tempos.

No entanto houve aldeias que deixaram a cair no esquecimento estes rituais e agora com base em testemunhos escritos tenta-se «reanimar» um legado que faz parte da herança da presença das comunidades celtas na região transmontana.

«Tentamos neste momento estudar a possibilidade de voltar a colocar no terreiro público um figura mascarada há muito tempo perdida por imposição da igreja e que é o chocalheiro de Bruçó, tendo por base apenas escritos antigos», exemplificou o investigador.

Se no passado estas festividades estavam «estritamente» reservadas aos homens, com o despovoamento do interior, as populações começaram a introduzir algumas mudanças no rituais para os manter vivos e as mulheres começam a ocupar um lugar de destaque, tudo em nome da tradição.



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