Peritos de conservação e restauro alertam que é preciso respeitar a "autenticidade" das obras a intervencionar, apontando como exemplo, as pinturas murais a fresco, que muitas vezes são "desvirtuadas" devido à falta de "cuidado" nas intervenções.

"No caso das pinturas murais, elas sofreram vicissitudes por de trás de retábulos, como a sujidade ou maus tratos e nunca poderão ter o mesmo aspeto de uma pintura que foi feita recentemente", explicou à Lusa Joaquim Caetano, técnico e consultor científico do Centro de Conservação Restauro da diocese Bragança-Miranda.

Para o especialista, por vezes há pinturas murais com cerca de 500 anos em que a leitura iconográfica "é mistificada" pelos técnicos de restauro.

"A intervenção terá de ser pautada pelo respeito máximo, por aquilo que é autêntico na obra", frisou.

A pintura a fresco, segundo os peritos, é comum em Portugal, havendo "imensos exemplares" sobretudo nos distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Guarda ou Castelo Branco.

"O capítulo da pintura a fresco é recente na história da Portugal. O primeiro estudo feito foi em 1921 e decorreram vários anos sem que houvesse mais desenvolvimentos", relatou Joaquim Caetano.

Muitas destas pinturas murais chegaram até aos dias de hoje por estarem escondidos atrás dos retábulos de talha dourada, "o que acabou por as proteger".

No entanto, há outras pinturas que estão cobertas por camadas de cal e para as quais é preciso encontrar técnicos especializados para proceder à sua restauração e manutenção", para que não haja "estragos".

"A partir do século XVIII a talha dourada foi muito utilizada, o que acabou por conservar muitas das pinturas murais a fresco, que existem no país. Contudo, este tipo de equipamento acabou por perder o seu protagonismo", enfatizou.

Segundo os especialistas, no que respeita à iconografia, há imagens de santos que são recorrentes. Porém, há outras cenas que são "únicas" no país, como é caso de pinturas murais a fresco que representam uma cena da vida de S. João Batista e que foram descobertas recentemente em Picote, no concelho de Miranda do Douro, distrito de Bragança.

Por seu lado, a diretora do Centro de Conservação e Restauro da diocese de Bragança-Miranda, Lília Pereira da Silva, disse que houve um período de tempo em que se deu mais importância à talha dourada ou policromada.

"Hoje em dia, a arte é mais valorizada, e nessa corrente, as pinturas murais acabam por ser beneficiadas em detrimento de outras técnicas", acrescentou.

Para a responsável, é importante que as pessoas que têm a função de zelar pelas igrejas ou capelas, ao encontrar qualquer tipo de vestígio de pinturas murais ou frescos, entrem em contacto com técnicos que respeitem a sua autenticidade.

Muitas das vezes, o que está por de baixo de uma simples camada de cal poderá ser "um importante testemunho histórico e artístico", frisou.



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