Gabam-se de ser a primeira banda rock agrícola e são caso único a cantar em mirandês subsídios agrícolas e tractores com acordes do mais puro rock da pesada.
«Surrealistas» é dos epítetos com que já foram brindados o que mais agrada aos Pica Tumilho, cinco jovens mirandeses que há doze anos criaram uma banda em homenagem à agricultura.
Numa altura em que \"a lavoura estás de rastos\" e \"os fundos da CEE foram bem (mal) gastos\", dois engenheiros, um enfermeiro, um estudante e um professor querem mostrar que os rurais têm futuro e dar uma \"alma nova à abandonada agricultura\".
Dos cinco, apenas um permanece na terra, Sendim, no concelho de Miranda do Douro, mas garantem que, ao contrário de outros que saíram da região para trabalhar e estudar, \"não somos daqueles que abandonam a agricultura\".
Em pouco mais de um década já granjearam um clube de fãs- \"Os Picanços\"- embora ainda algo reduzido ao Nordeste Rural, e conseguiram transpor as fronteiras da região com concertos na Mealhada , Viseu, Leiria, Braga, Lamego e por aí fora.
Têm em bandas como os AC/DC as referências sonoras e nas samarras, bonés, jaquetas espalhadouras, motores de rega e outros instrumentos agrícolas a indumentária, uma mistura exótica que é imagem de marca do Pica Tumilho
Emílio é o criativo da banda que traduz em cómicas letras \"o quotidiano e a essência do povo\" exaltados na guitarra de Pedro, nas teclas de Bruno, na bateria de César e no baixo de Nicolau, com ainda a melodia da tradicional gaita de foles.
A mistura resulta num \"hard rock etnográfico\" registado já em dois CD com temas de crítica social aos projectos agrícolas e peripécias da lavoura.
As históricas que cantam têm como figura central um casal apaixonado, Florinda e Alfredo, símbolos do \"amor agrícola à luz da candeia\".
A história dos Pica Tumilho começou com um desafio lançado pela tia de um dos elementos para escreverem uma letra em mirandês para um festival regional, em que \"arrecadaram todos os prémios\".
Já cantavam a língua mirandesa antes mesmo de ser elevada à categoria de segunda oficial de Portugal e foram buscar o nome às raízes de uma prática ancestral agrícola de aproveitar plantas para fazer fertilizante.
\"Não queremos ser só cómicos\" garantem, assumindo-se como \"músicos de intervenção\" que encontraram numa fórmula antiga a melhor maneira de abordar coisas sérias: \"à gargalhada\".
Independentemente do repertório, a atenção do pública está garantida, seja pela surpresa de ver irromper entre a plateia um tractor, gigantes cabeças de burro insufláveis a erguerem-se no palco ou motores de rega a dispararem fogo de artificio.
\"Ás vezes, podemos parar de cantar que nem notam\", dizem eles, que ao contrário dos caprichos dos artistas famosos, pedem apenas para cada espectáculo o respectivo tractor e fardos de palha.
\"Respiramos agricultura\", insistem e é por isso que fazem do palco um quintal para interpretarem e representarem letras como \"A Agricultura é a Minha Loucura\" convictos de que \"A Lavoura é Futuro\".
Depois de uma sachola autografada, querem agora passar a brindar o público com uma generosa pipa de vinho, para a qual procuram ainda um patrocínio de uma cooperativa qualquer.