A ideia é simples pÎr o comboio do Tua nos carris, acabando, de vez, com o fantasma do encerramento. Mas a tarefa mostra-se complicada e poderá não ir além de uma batalha perdida, já que a poderosa EDP ameaça construir uma barragem e reduzir a via-férrea ao troço Mirandela-Cachão.
\"A nossa dor de cabeça começou a 24 de Dezembro de 2005, altura em que Sócrates anunciou que os estudos geológicos permitiam a construção da barragem\", disse, ao JN, Mário Carvalho, do Movimento Cívico de Defesa da Linha do Tua.
O Movimento não tem poupado esforços para dar razões à sua razão, provando o desinvestimento propositado horários desfasados, falta de ligações à Linha do Douro.
O acidente que vitimou duas pessoas reacendeu a polémica. \"Tememos que os três meses anunciados para a reconstrução do troço afectado sejam, afinal, para concluir o estudo de impacte ambiental\", afirmou José Pinto, do mesmo Movimento.
Célia Quintas cita um caso curioso \"A aldeia do Amieiro fica a 50 metros da linha, mas não a pode utilizar. A ponte que ligava as duas margens caiu, pelo que só há acesso ao comboio no Verão, altura em que o fraco caudal do Tua permite fazer uma passagem improvisada\"!
Rui Andrade, do mesmo Movimento, cita outro caso \"A CP chegou a pÎr composições duplas, mas só podia viajar-se numa delas. A outra ia vazia. Isto diz bem da desvalorização que a CP quer provocar no Tua\".
José Pinto vai mais longe \"Destruíram a estação de S. Lourenço, toda feita em xisto. A população revoltou-se e acabaram por fazer lá um simples abrigo, sem qualquer enquadramento com a região\".
O rosário de queixas é enorme, tendo a CP e a REFER com alvos. Mas, como inverter o que parece inevitável?
\"Temos o apoio dos autarcas e de toda a população da região, assim como dos Verdes. Estamos a lutar para que a Linha do Tua seja inserida em zona de paisagem protegida. Se avançar a construção da barragem, não é só o comboio que se perde. Perde-se também milhares de oliveiras e muitos quilómetros de vinha\", referiu Mário Carvalho. Para sensibilizar o Governo para a questão, nos meados do próximo mês, deslocam-se a Portugal elementos representativos de \"Os Verdes\" no Parlamento Europeu, entre eles o vice-presidente, Claude Turme.
\"Temos de impedir a construção da barragem e aproveitar as potencialidades turísticas da região, de forma a rentabilizar a linha em termos de turismo e, assim, diminuir os custos do serviço social que presta\", disse, ao JN, Manuela Cunha, da Direcção Nacional de \"Os Verdes\".
\"Temos a jóia da coroa, a Linha do Tua, considerada a terceira mais bela do Mundo em via estreita. A paisagem herda-se, não se fabrica. Temos de a preservar\", concluiu Manuela Cunha.