Associações culturais do Planalto Mirandês assumiram hoje levar um Manifesto à Presidência da República, Assembleia da República e Governo para alertar para o que consideram ser injustiças com a venda das barragens no Douro Intencional por parte da EDP.
Segundo este grupo, composto por cinco associações culturais e vários elementos da sociedade civil, os municípios de Miranda do Douro e Mogadouro, no distrito de Bragança, não estão a beneficiar da riqueza que é produzida nas três barragens instaladas neste território.
"Estamos perante um problema que não é só local. É também um problema nacional, onde a desigualdade é fator de atraso e desintegração social, (…) e onde existem diferenças acentuadas na distribuição da receita pública. Só as barragens instaladas no Planalto Mirandês produzem 200 milhões de euros/ano", indicou José Maria Pires, um dos promotores deste Manifesto Cultural.
Segundo o fiscalista, o Estado cobra deste montante apresentado 23% de IVA e cobra 30% de IRC, para além de outros impostos associados.
"Esta parte da riqueza pública é cobrada através de impostos e, nos termos da Constituição, terá de ser redistribuída de forma justa entre os portugueses. O que nós queremos é que esta redistribuição de dividendos seja justa. Por isso, pedimos que se cumpra a Constituição da República e que não seja tudo canalizado para Lisboa, onde a EDP tem a sua sede", defende
Este Manifesto Cultural, com origem na designada Terra de Miranda, junta a Associação da Língua e Cultura Mirandesas, FRAUGA - Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, Galandum Galundaina - Associação Cultural, Lérias Associação Cultura, MasChocalheiro Associação de Bemposta e várias pessoas ligadas ao território.
Por seu lado, Susana Ruano, da Associação Cultural "Lérias" disse que as gentes da Terras de Miranda, são portadoras de uma cultura ancestral e resistente, mantida a custo pela "teimosia" das pessoas locais.
"Não foi fácil arrancar esta cultura de um estado de descriminação nacional e que hoje é motivo de orgulho dos jovens e da população em geral deste território", concretizou a também instrumentista.
Já Paulo Meirinhos, músico do grupo Galandum Galundaina, é da opinião de que o que ficou de mau resultante da construção das barragens no Douro Internacional é o reflexo do abandono da Terra de Miranda pelas entidades competente.
"Dou como exemplo a pedreira a céu aberto que ficou abandonada em pleno núcleo urbano da cidade de Miranda do Douro. Pode por vezes passar desperecida aos turistas, mas trata-se de uma verdadeiro atentado ambiental", denunciou.
Em conferência de impressa realizada hoje através da plataforma Zoom, os intervenientes salientaram o desprezo e abandono cultural, ambiental, social e económico a que a Terra de Miranda foi deixada pelo diversos decisores nacionais.
O Manifesto Cultural já foi subscrito, até ao momento, por cerca de 700 subscritores de diversos quadrantes da cultura, oriundos de vários pontos do país, e que vão desde o cinema, televisão, pintura, etnografia, entre outras variantes culturais e que será partir de hoje massificado através de vários meios.
Os subscritores defendem a reafetação de recursos e a sua utilização no investimento mais produtivo, transformando a Terra de Miranda num centro de produção cultural e de atracão do turismo cultural, histórico e ambiental.
Os municípios Miranda Douro e Mogadouro também já manifestaram o seu apoio a este movimento.
A EDP vendeu seis barragens em Portugal a um consórcio de investidores, formado pela Engie, Crédit Agricole Assurances e Mirova, por 2,2 mil milhões de euros.
As centrais hídricas, localizadas na bacia hidrográfica do rio Douro, totalizam 1.689 megawatts (MW) de capacidade instalada.
E m causa, estão três centrais de fio de água, em Miranda, Bemposta e Picote, com 1,2 gigawatts (GW) de capacidade instalada, e três centrais de albufeira com bombagem em Foz Tua, Baixo Sabor e Feiticeiro, com 0,5 GW de capacidade.
Foto: António Pereira (Barragem de Miranda do Douro)