Um grupo de habitantes e pais protestou hoje contra o encerramento do jardim de infância de Podence com o argumento de que são precisas crianças na aldeia porque sem “facanitos” não há Caretos.

Os tradicionais mascarados do Entrudo Chocalheiro de Podence são Património da Humanidade e atraem milhares de turistas à aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, assim como têm levado o nome da terra a várias partes do mundo.

Os “facanitos” são as crianças que se vestem de Caretos e são poucas na aldeia, onde se receia que, com o anunciado encerramento do infantário, a única escola, deixe de haver crianças e quem siga e mantenha a tradição.

“Se não houver facanitos, também não há caretos” atirou Julieta Silva, que se aproximou do grupo de 20 pessoas que se manifestaram hoje, em frente ao edifício da antiga escola primária.

Outra habitante da aldeia, Maria Gonçalves vincou que “as crianças fazem falta”, pois Podence “é uma aldeia grande, mas com muito pouca população”.

Dos 14 meninos inscritos no infantário apenas um é de Podence e os restantes são de várias aldeias em volta.

Alguns vão para o primeiro ciclo no próximo ano letivo, enquanto os mais pequenos passarão a ser transportados até à sede de concelho, para o polo I de Macedo de Cavaleiros.

A vereadora da Educação, Sónia Salomé, confirmou, na segunda-feira, à Lusa a decisão de encerrar o jardim de infância de Podence, garantindo que as crianças irão ser transportadas “apenas mais cinco ou seis minutos” no circuito de transportes escolares que já fazem atualmente.

Uma das mães, Laura Pascoal, contrapôs hoje as declarações da autarca, alegando que as crianças terão mais 30 minutos de viagem, concretizando que de Podence até Macedo de Cavaleiros, o autocarro passa ainda por várias aldeias.

“A vereadora diz que são mais cinco minutos, que venha um dia no autocarro e que faça o trajeto que os meninos fazem de manhã, vai ver as condições da estrada e o tempo que os meninos demoram a lá chegar”, afirmou.

Há cerca de 20 anos, segundo os testemunhos locais, tentaram fechar a escola e continuou aberta apenas com o jardim de infância para crianças dos três aos seis anos.

O infantário de Podence deverá ser tema de discussão na próxima sessão da Assembleia Municipal de Macedo de Cavaleiros, segundo Luís Filipe Costa, que é “careto” e um militante da tradição desta aldeia do distrito de Bragança.

Vive na aldeia e diz que “é pena associarem o fecho da escola ao número de turistas que têm visitado a aldeia”.

“Há muitos turistas, mas é completamente compatível termos turistas e crianças na aldeia”, defendeu, em resposta ao argumento do município da falta de segurança devido à presença e turistas no recinto da escola.

Os habitantes falam que outras das justificações para o encerramento é a instalação no local de uma oficina do Careto e consideram que “há muitas casas velhas, palheiros, muitos terrenos e casas degradadas, que podiam ser recuperadas para criar esses espaços”.

É profundamente errado fechar uma escola e retirar daqui crianças para criar aqui novos espaços para turistas, é possível conciliar e é isso que gostávamos que a câmara e a junta de freguesia fizessem”, defendeu Luís Filipe Costa.

“Deviam ouvir mais a população”, preconizou Maria Gonçalves, nascida e criada em Podence e que lamenta que “muitos que andam a tratar destes assuntos” não sejam da aldeia, embora vivam lá.

“Ainda bem que há turistas e ainda bem que há pessoas que vêm”, insistiu, com críticas aos políticos que, na visão dela, “inventam não importa o quê para aproveitar verbas para eles meterem para onde querem e para fazerem o que eles querem”.

Esmeralda Parada é mãe e avó de Podence e, embora não tenha crianças no jardim de infância, está contra “tirarem uma atividade viva para pôr uma morta”.

“Que interessa ter muito museu, se não há gente, que interesse virem muitas pessoas a visitar Podence se não há uma alma viva?”, questionou.

A vereadora da Educação acrescentou, num comunicado publicado depois da manifestação, que a decisão final da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGESTE) sobre o encerramento da escola foi comunicado ao município “apenas a 05 de maio”.

No comunicado, Sónia Salomé reitera que compreende “alguma indignação dos pais e encarregados de educação”, mas assegura que a decisão da transferência para o polo de Macedo de Cavaleiros “vai ser benéfica para as crianças”.

“Vai-lhes permitir conviver com mais crianças, lidar com novas realidades e frequentar um espaço educativo com melhores condições do que em Podence”, justifica.

O município esclarece que o fecho do infantário tem como base “a salvaguarda das crianças, a sua proteção e segurança, bem como a criação de melhores condições para a sociabilização”.



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