O Instituto Politécnico de Bragança (IPB) tem em curso um projeto para estudar como é que a pastorícia extensiva no Parque Natural de Montesinho se está a adaptar às alterações climáticas.

O projeto chama-se Pastopraxis, começou em 2021 e estende-se até 2024.

“Estamos perante alterações climáticas, não há dúvidas. Os nossos produtores de gado já estão a ter que lidar com elas. Eles não têm noção de que se estão a adaptar, mas estamos a verificar que existem [adaptações]”, começou por explicar à Lusa a investigadora-principal do projeto, Marina Castro, professora do Departamento de Ambiente e Recursos Naturais do IPB e especialista em pastorícia e silvopastorícia.

A amostra em estudo é composta por cinco rebanhos dos concelhos de Bragança e de Vinhais, - eram seis inicialmente, mas um pastor cessou entretanto atividade - da Cabra Preta de Montesinho e da ovelha Churra Galega Bragançana, ambas raças autóctones.

Este projeto tem a colaboração da Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana e da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Bragançana.

Contactadas pela agência Lusa, forneceram os dados nacionais do efetivo das duas raças. A Cabra Preta de Montesinho conta com cerca de 1.800 exemplares e está classificada como espécie rara. Na mesma categoria está a ovelha Churra Galega Bragançana preta, com pouco mais de 3.600 animais. Já a branca ronda os 15 mil animais por todo o país e é uma espécie em risco.

“Monitorizámos os animais com coleiras GPS e vemos quais são os seus percursos de pastoreio. Esses percursos podem ter seis, sete, oito quilómetros. Quanto mais difíceis forem as condições, maior será a volta”, detalhou Marina Castro.


Os registos até agora demonstram que em 2022, “um ano dramático", a maior preocupação dos pastores foi a seca. “Não nos conseguem dizer muito bem quais são as suas maiores ou menores limitações. Mas conseguem dar a indicação através dos fardos de feno que produzem. No ano passado, tiveram quebras na ordem dos 60 a 70%”, revelou Marina Castro.

O feno - erva seca conservada - serve para alimentar os animais em períodos de escassez de pasto. “Este ano também tiveram quebras, mas não foi tão mau. Uma prática recorrente é que já não vendem feno. Guardam, porque não sabem o que vai acontecer no ano seguinte”, explicou Marina Castro.

A pastorícia extensiva é uma atividade envelhecida, com dificuldades em captar jovens e onde “as condições socioeconómicas não se coagunam muito bem com as da atualidade”.

“O nosso contributo é perceber as boas-práticas para as tentar disseminar e travar um pouco a sangria da atividade. Receamos que quando a sociedade se aperceber do serviço fundamental que os pastores fazem, seja tarde de mais”, disse Marina Castro, questionada sobre os objetivos deste projeto.

A médio prazo, outro objetivo é que os pastores sejam remunerados pelos serviços de ecossistema que prestam. “Em termos da conservação na Natureza, os pastores têm um papel fundamental. Transportam-se sementes, melhorando a diversidade de espécies, e os animais consomem matos e plantas arbustivas, que não seriam utilizadas de outra maneira e que são os combustíveis dos incêndios”, elucidou Marina Castro.

Para a investigadora, uma eventual remuneração permite não só mais rendimento, mas teria o “efeito indireto de reconhecimento pela sociedade”. “Se o Estado Português vier a pagar um serviço, entende-se que é importante”, disse.

O PastoPraxis tem como parceiro o Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). Os pastores são acompanhados por um especialista, que vai fazendo registos sobre, por exemplo, os critérios das decisões tomadas no campo pelos pastores . “Cruza a antropologia com a biofísica e as ciências biológicas.”, rematou Marina Castro.

O IPB é ainda parceiro atualmente de um outro projeto, ibérico, designado SILFORE, que prevê a conservação e gestão de sistemas agroflorestais, para que sejam mais resilientes a fogos florestais através da silvopastorícia. 



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