Na bacia hidrográfica do Douro, entre outras, onde abunda a tainha e a solha, o efeito da poluição no ecossistema está a comprometer seriamente a reprodução e a sobrevivência das espécies.
O efeito da poluição em alguns estuários do norte e centro do país está a ser estudado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) com o intuito de detetar alterações nos tecidos dos peixes, designadamente no seu potencial de fertilidade e repercussões da reprodução das espécies.
Estes estudos, realizados pelo Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD, em colaboração com outros centros de investigação, incidem nas bacias hidrográficas do Ave, Douro, Tejo e Lima onde abundam a tainha e a solha, consideradas espécies bioindicadoras de referência do efeito da poluição nos ecossistemas. Nestes estuários têm sido encontrados, em especial na tainha, indicadores da perturbação em vários órgãos, como o fígado, a brânquia e a na gônada, órgão fundamental na reprodução e na sobrevivência da espécie.
Segundo um professor e investigador do CITAB/UTAD, os estudos procuram, entre outros objetivos, “detetar alterações nas gónadas relacionadas com a micropoluentes e, em particular, avaliar o efeito dos compostos desreguladores endócrinos, isto é, compostos que alteram o sistema hormonal e que vão afetar várias funções importantes, incluindo a reprodução”.
“Se o peixe estiver exposto a determinados compostos químicos que simulam a ação de hormonas femininas, estes tóxicos, como é o caso de alguns pesticidas, alguns produtos industriais e diversos medicamentos, com relevo para pilula contracetiva, vão simular as mensagens hormonais femininas e os peixes machos são induzidos erradamente, ocorrendo, então, a feminização de alguns peixes-macho”, alerta João Carrola, antecipando um quatro potencialmente perigoso para o futuro das espécies piscícolas.
É de salientar que este investigador detetou percentagens consideráveis, principalmente no estuário do rio Douro e, também, do Ave, mas apenas em tainhas. As solhas não apresentam oócitos no testículo, tal como acontece frequentemente em estuários do Norte da Europa. Por outro lado, tanto este como outros investigadores da equipa do CITAB, liderada pelo investigador da UTAD, Rui Cortes, nunca encontraram, qualquer problema semelhante em água doce, em rios do centro e norte dos pais, tal como acontece em certos rios de Espanha, França, ou Reino Unido, por exemplo.
Estes compostos, mesmo em doses muito baixas, adverte, ainda, João Carrola, “conseguem alterar o funcionamento do sistema endócrino que controla de forma precisa diversas funções vitais do organismo, desde a regulação do metabolismo, crescimento, desenvolvimento, reprodução, imunidade, entre outras”.
De acordo com o investigador, “as consequências a longo prazo podem levar a alteração na dinâmica das populações de peixes, mas sabe-se que estes compostos podem também afetar o homem, se estiver exposto, via alimentos, água, cosméticos, etc. Estes compostos podem, por exemplo, reduzir a fertilidade no homem, provocar problemas no desenvolvimento do embrião/feto, podem provocar ainda patologias com, por exemplo, obesidade, diabete e hiperatividade”.