A ponte de arame de Ribeira de Pena foi reposta junto à nova albufeira do rio Tâmega, em Santo Aleixo, depois de ter sido retirada do local original devido à construção da barragem de Daivões.

E, por curiosidade ou nostalgia, já são muitos os que estão a ir visitar e atravessar a ponte, que foi colocada num braço de água da albufeira, na aldeia de Santo Aleixo. Já não atravessa o Tâmega, que aumentou de dimensão devido à barragem de Daivões e foi colocada numa das margens.

“Esta foi uma das diferentes contrapartidas. Esta ponte para nós era muito importante porque estava inserida e, neste momento continua, no chamado Caminho do Abade. Era algo que era importante preservarmos”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da Câmara de Ribeira de Pena, João Noronha.

Para o autarca, o “espírito está aqui, a obra está bem concebida e está já a ser um fator de atração” para a população local e para quem visita o concelho.

A construção da barragem de Daivões, inserida no sistema eletroprodutor do Tâmega, atingiu, devido à subida das águas do Tâmega, o local onde estava originalmente a centenária ponte de arame torcido e que foi, até 1963, a única travessia para a população local, entre Balteiro e Santo Aleixo.

Depois, recordou o autarca, transformou-se numa atração turística deste município do distrito de Vila Real.

A ponte de arame tinha mais de 20 metros de comprimento e estava suspensa em mais de 100 cabos de arame torcido.

“O restauro e relocalização da ponte de arame de Ribeira de Pena como elemento patrimonial é uma das medidas da Declaração de Impacto Ambiental (DIA) do Sistema Eletroprodutor do Tâmega. A Iberdrola trabalhou de forma estreita com a Direção Regional da Cultura do Norte e com a Câmara de Ribeira de Pena para concretizar esta medida”, salientou a empresa espanhola à Lusa.

Para a reposição da ponte foram recuperados os pórticos de pedra e, segundo João Noronha, a estrutura foi reforçada com aço, arame e madeira, e manteve as mesmas dimensões da original.

A receção de obras, como desta ponte de arame, da nova ponte rodoviária ou das estações de tratamento de águas residuais (ETAR), por parte da autarquia deverá ser feita, em princípio, em março.

Entre as aldeias de Veral (Boticas) e Monteiros (Vila Pouca de Aguiar), população e autarcas continuam a reivindicar a reposição da passagem pelo rio Tâmega que, atualmente, é feita também por uma ponte pedonal de arame, mas que vai ser afetada pela construção de uma outra barragem inserida no mesmo empreendimento hidroelétrico, a do Alto Tâmega.

A ponte de arame entre Veral e Monteiros está contemplada na DIA, mas apenas como um “elemento patrimonial”, pelo que a concessionária Iberdrola teria apenas de a recolocar num outro local.

Em Ribeira de Pena, João Noronha salientou que “já vários investidores” manifestaram intenção de apostar na “imensa mancha de água”, agora disponível na albufeira de Daivões.

Para o efeito, frisou, é preciso que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) conclua o plano de ordenamento da albufeira de Daivões.

“Só depois disso é que podemos ter outro tipo de compromisso com os investidores privados e nós queremos que eles venham porque temos que rentabilizar todo este potencial que a barragem trouxe a Ribeira de Pena”, afirmou João Noronha.

O presidente lembrou também “os muitos prejuízos” resultantes da construção do novo empreendimento, como as famílias que perderam as suas casas junto ao rio Tâmega.

“Foi um preço muito elevado para essas famílias e para o concelho também, porque perdermos muitas dessas pessoas, umas por desgosto outras por opção não voltaram a fazer uma casa em Ribeira de Pena. O concelho perdeu com isso”, sublinhou.

João Noronha acredita agora que a nova albufeira pode “vir a potenciar a criação de novos postos de trabalho”, ajudando a fixar e atrair mais pessoas ao território.

Vai ajudar também, apontou, no combate aos incêndios, ganhando relevância num ano de seca como está a ser 2022. É que ali podem ir reabastecer os aviões de combate aos fogos, permitindo uma atuação mais rápida, inclusive, na proteção da maior mancha continua de pinheiro-bravo da Península Ibérica, que se localiza neste território.

O Sistema Eletroprodutor do Tâmega contempla a construção de três barragens - Daivões, Gouvães e Alto Tâmega - e é um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, representando um investimento de 1.500 milhões de euros.

A Iberdrola anunciou em janeiro que ligou à rede o primeiro grupo da gigabateria do Tâmega, uma turbina com 220 megawatts de capacidade situada na barragem de Gouvães, no rio Torno, em Vila Pouca de Aguiar.

O complexo do Tâmega é composto por três albufeiras e três centrais hidroelétricas com uma potência de 1.158 megawatts (MW).



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