Dois grupos de populares disputaram hoje o direito de transportar um andor de mil quilos na romaria de Sanfins do Douro, Alijó, uma tradição antiga ganha este ano pelo "Grupo Novo" que pagou 20.500 euros.
A arrematação do andor de Nossa Senhora da Piedade é o ponto alto das Festas de Sanfins do Douro e culmina um ano de trabalho.
No santuário juntaram-se centenas de pessoas e, antes da disputa, as duas equipas aproveitam ainda para juntar os últimos euros. Cada um dá o que pode para conquistar o direito e o orgulho de carregar o andor de talha dourada e quase mil quilos.
A disputa começou depois dos líderes subiram ao coreto. Este ano calhou ao "Grupo Novo" começar a arrematação e logo com 15.000 euros, respondendo o "Velho" com 16.000.
Os lances foram subindo até atingirem os 20.500 euros por parte da primeira equipa a que se seguiu o "entregue" por parte do "Grupo Velho".
"É uma alegria para o pessoal do 'Grupo Novo'. É um orgulho muito grande para nós", afirmou à agência Lusa o presidente desta equipa, Óscar Ribeiro.
Esta equipa conquistou hoje o direito de carregar o andor, depois de quatro vitórias seguidas do "Grupo Velho". No final, o "Grupo Velho" dizia que os outros "também têm direito".
Primeiro era só um grupo, o "Velho". O "Novo" foi criado há cerca de 40 anos para lhe fazer frente e, atualmente, é esta disputa que dá o colorido à festa.
A tradição vai passando de pais para filhos e quem contribui são pessoas de todas as idades. Ainda há quem se lembre que, antigamente, havia quem ia trabalhar para as malhadas só para trazer dinheiro para o grupo. Também há quem ajude os dois grupos.
"Cada um contribui com aquilo que pode", salientou Luís Bragado do "Grupo Velho", que junta cerca de 400 pessoas.
Óscar Ribeiro disse que a angariação de verbas correu "normalmente". "Nós queríamos mais. Mas não dá, as pessoas não se podem esticar mais do que podem", salientou este representante do "Grupo Novo", que junta menos pessoas.
José Sampaio, emigrante nos Estados Unidos da América (EUA), ajudou a criar o "Grupo Novo" e disse que, durante estes anos, já deu "milhares de euros" e só uma vez pegou no andar.
Afirmou que o "Novo" ainda é o seu grupo mas confessou que também contribui para a outra equipa.
Depois da arrematação coloca-se a imagem da padroeira no andor, enfeita-se com as flores e os primeiros dez aprontam-se e unem esforços para o erguer e seguir pelos cerca de dois quilómetros que descem até ao centro da localidade.
Constantino Grácio, da Comissão de Festas Senhora da Piedade, explicou que a arrematação do andor é o ponto alto da festa e frisou que o dinheiro angariado é a parte "mais importante do orçamento da festa".
A romaria da Senhora da Piedade assinala 209 anos em 2016.
"Esta é a parte mais emocionante da festa e também a que mobiliza mais as pessoas daqui e as que vêm de fora. É esta rivalidade entre os grupos, mas uma rivalidade que é só aqui, durante a arrematação", salientou.
O responsável referiu que a arrematação já chegou a atingir os 37.000 euros. "Não há um preço para começar nem um preço para acabar", frisou.
Ao mesmo tempo que esta procissão sai do santuário há uma outra que sai da igreja da vila e as duas encontram-se num largo, seguindo depois as duas juntas até à igreja. Durante a tarde decorre a procissão de gala.
"Aqui há religião, devoção e muita fé", salientou Constantino Grácio.
A festa em Sanfins do Douro dura seis dias e, na próxima terça-feira, o dia é dedicado aos muitos emigrantes que regressam nesta altura do ano.
Lusa